Menu

Clinica Veterinária

Início Opinião MVLegal Violência doméstica e familiar contra a mulher e a teoria do elo
Animal Health

Violência doméstica e familiar contra a mulher e a teoria do elo

A importância do médico-veterinário na identificação de maus-tratos aos animais e a outros membros da família

Matéria escrita por:

Clínica Veterinária

15 de nov de 2023

Ciclo de encontros do programa Homem sim, consciente também. Créditos: @tonello_fotografia Ciclo de encontros do programa Homem sim, consciente também. Créditos: @tonello_fotografia

No congresso internacional Animal Health Expo Forum foi possível apresentar a possibilidade de analisar a questão da violência doméstica e familiar, incluindo a violência animal, num momento em que se verificam os fatores de riscos no relacionamento abusivo em que a mulher está inserida.

Assim, durante a análise do relacionamento da vítima, é possível encontrar questões de maus-tratos aos animais praticados pelo parceiro; porém, numa observação minuciosa, é possível identificar que os atos por ele praticados não são apenas para causar dor ao animal, mas também à companheira, que é reconhecida como a principal tutora.

Diversos relacionamentos abusivos ou tóxicos são mantidos pela segurança do animal de estimação, uma vez que as ameaças experimentadas pela mulher, dependendo da circunstância, envolvem diretamente os animais, comprometendo a saúde mental e o poder de decisão dela.

A medicina veterinária constitui um dos braços na luta contra a violência doméstica e familiar, contribuindo para que ela seja exitosa e efetivamente reduzida.

Uma das formas de contribuir para a redução da violência doméstica e familiar feita pela palestrante é manter o tema de violência contra os animais no ciclo de encontros do programa Homem Sim, Consciente Também” (HSCT).

O programa HSCT tem como objetivo o diálogo com homens que apresentem perfil violento ou autodestrutivo, que passarão pela desconstrução de conceitos e padrões aprendidos, tornando-os mais conscientes de seus atos, de modo a permitir que incorporem padrões aceitáveis de conduta nos tempos atuais.

Ressalte-se que os participantes do programa HSCT não se envolvem de forma compulsória, mas são convidados a integrar o grupo, que começa e termina sem a entrada de novos membros no seu transcurso.

A educação patriarcal, que coloca os interesses do gênero masculino acima dos do feminino, em vez de um tratamento isonômico, gera prejuízos para todos, pois provoca a cobrança de condutas padronizadas como atitudes que são próprias de mulheres e atitudes que são próprias de homens, além do não reconhecimento de gêneros fora do preceito binário.

O programa HSCT, dentre seus objetivos, busca a descoberta da masculinidade positiva, o encontro da pessoa consigo mesma, tornando-a consciente de seus valores e desconstruindo pontos de violência, além de demonstrar que não há necessidade de anular suas habilidades e competências para ser aceito socialmente.

Ao falarmos de igualdade de gênero, precisamos dar oportunidade de acolhimento também para os homens, objetivando apresentar pensamentos construtivos para criar uma sociedade livre, justa e solidária, além de isonômica nas suas condutas, respeitando o protagonismo e as escolhas femininas.

No que tange aos animais, apresenta-se para os homens a importância dos cuidados, o estabelecimento da diferença entre maus-tratos e negligência, além da conscientização sobre as consequências da falta desses conhecimentos, e todo esse processo contribui para reduzir hábitos considerados por eles até então como legítimos.

Além disso, o programa demonstra questões de violência contra os animais e mostra a possibilidade de gerar uma questão extensível ao ser humano próximo; traz reflexões importantes, uma vez que a pessoa analisará suas condutas, porém também verificará a de outras próximas.

Para os profissionais da medicina veterinária, é importante ressaltar que no seu dia a dia, havendo a identificação de algo incompatível com o bem-estar animal, existem ações importantes a considerar:
• comunicar suspeitas de maus-tratos à Delegacia de Polícia Especializada no Meio Ambiente, como crueldade, abuso, acúmulo e negligência, podendo incluir algum elemento familiar percebido que considerar pertinente;
• instruir a denúncia com elementos que possam ratificar as suspeitas (fotos dos animais, literatura, linha de raciocínio –  exemplo: em situações normais, tal lesão é incompatível com o narrado pelo tutor).

Os médicos-veterinários devem estar atentos e analisar as condutas contra animais de uma forma transversal, ou seja: além de examinar o animal, seguindo os protocolos, devem verificar suas condições, a partir da análise do relato do tutor para que tenha atingido o estado em que chegou à consulta.

Assim que o médico-veterinário analisa as condições do animal apresentado, é possível que encontre lesões ou condições de saúde incompatíveis com a narrativa do tutor, que podem, inclusive, caracterizar maus-tratos ou outra infração mais grave.

Ao fazer uma análise transversal, o médico-veterinário pode verificar se o animal reconhece outra pessoa como tutora, uma fala agressiva de desprezo do responsável ou em relação a essa outra pessoa e até mesmo o desinteresse no genuíno bem-estar do animal.

Há ainda situações em que pessoas que causam dor e sofrimento ao animal demonstrando prazer nos atos violentos praticados podem ser diagnosticadas com algum transtorno neurológico.

O apoio do médico-veterinário, por intermédio de sua análise a respeito do estado de saúde do animal, permite o reconhecimento com maior brevidade de situações como essas, desde as mais simples até as mais complexas.

O programa HSCT busca a redução da violência doméstica contra a mulher, a conscientização da causa animal e a desconstrução de padrões de comportamento tóxico ou autodestrutivo.

A proteção e a valorização devem alcançar todos os membros que compõem a família, pois, se o olhar estiver em apenas uma parte, não conseguiremos a isonomia e a harmonia tão sonhadas.