
A medicina veterinária é uma profissão que vem ganhando espaço no dia a dia da família multi-espécie, e a ética profissional é o alicerce para um mercado veterinário saudável e competitivo, no qual o foco principal deve ser o bem-estar animal e a saúde de toda a sociedade.
A concorrência leal não apenas fortalece o relacionamento com os responsáveis pelos pacientes, mas também cria um ambiente de colaboração e respeito entre os profissionais. Neste artigo vamos discutir os comportamentos que devem ser incentivados e aqueles que precisam ser evitados na prática clínica diária.
É importante começar falando dos comportamentos a serem sempre estimulados e fortalecidos, pois o que é bom precisa de maior destaque, ao contrário do que vemos no dia a dia, onde o comportamento lesivo é o que tem maior espaço.
Assim, o primeiro dos comportamentos a serem destacados de forma positiva é a empatia e a transparência na comunicação, ficando como exemplo prático explicar detalhadamente as opções de tratamento para um animal doente. Supondo que um cão apresente sinais de insuficiência cardíaca, o profissional deve expor as alternativas de tratamento, como manejo com dieta, medicamentos ou hospitalização, incluindo os custos envolvidos e os prognósticos esperados.
As informações devem ser transmitidas com clareza, simpatia, acolhimento, olhos nos olhos, sem aumentar ou diminuir os riscos, pois esse comportamento gera confiança nos responsáveis pelo animal.
Outro exemplo bem comum do dia a dia são os casos complexos, nos quais o clínico não tem expertise e encaminha o paciente a um especialista. Esse comportamento gera respeito e compromisso com o melhor resultado para o animal, sendo também uma atitude ética. Obviamente, ao receber um paciente de outro colega, o especialista deve manter a comunicação aberta, atualizando o veterinário de origem sobre o andamento do caso, e ao final “devolver” o paciente para que continue a ser atendido pelo colega de origem.
Também é importante reconhecer e valorizar o trabalho alheio, entendendo que esse comportamento também é um pilar fundamental para uma relação ética e saudável. Assim, caso um responsável elogie o atendimento de outro profissional, em vez de se sentir magoado e revidar, diminuindo o valor do trabalho desse colega, o correto é reconhecer seu mérito e reforçar a importância de ter bons veterinários na área, mostrando maturidade e segurança profissional.
Ressalta-se também que a comunicação entre profissionais é necessária e positiva para a preservação do mercado profissional.
Outro comportamento que merece destaque é a busca constante por capacitação e atualização terapêutica e técnica, participando de congressos veterinários, workshops e cursos online. Tal conduta permite que os profissionais ofereçam tratamentos mais atualizados e eficazes, estando sempre a par das novidades e avanços da medicina veterinária, o que os diferencia em sua prática no mercado, de forma ética, sem necessidade de desmerecer concorrentes.
Uma situação bem comum é o questionamento pelos responsáveis de animais de uma recomendação feita por um veterinário anterior. Nesse caso, a maturidade profissional é importante, e deve levar a não criticar o outro colega, e, em uma postura ética, avaliar os critérios técnicos, e oferecer sua perspectiva de maneira construtiva, sem apontar falhas ou meramente criticar terceiros com a intenção de “ganhar” o cliente.
Outra conduta a se observar é manter custos e valores atualizados e nunca aviltá-los para fazer uma concorrência “desleal”; afinal, reduzir exageradamente os valores de consultas ou procedimentos para entrar no mercado ou atrair clientes pode até parecer vantajoso no curto prazo, mas prejudica o mercado como um todo, pois força uma desvalorização dos serviços veterinários, comprometendo a sustentabilidade financeira de todos os profissionais. Cabe ressaltar que esse comportamento desestimula a continuidade na profissão e gera no profissional uma insatisfação crescente.
Também é bom destacar que o profissional responsável atua dentro da necessidade e do momento, indicando procedimentos e exames necessários ao atendimento. Sugerir exames ou procedimentos desnecessários visando apenas ampliar lucros gera quebra de confiança do responsável e compromete a reputação do profissional, da clínica e da medicina veterinária como um todo. Além do mais, a coleta de material e a cobrança de exame sem sua realização são crimes, denotando dolo e depondo ainda mais contra a profissão.
Colocar o interesse financeiro acima do bem-estar do paciente é uma prática antiética, e negar informações essenciais ao responsável para que ele busque uma segunda opinião denota insegurança e até mesmo ocultação de algum erro cometido, além de transparecer falta de compromisso com a saúde do animal.
Assim, o ideal é fortalecer a concorrência leal na clínica veterinária, pois trata-se de uma atitude fundamental para criar um ambiente onde todos, incluindo os pacientes e seus responsáveis, saem ganhando. Agir com ética, respeito e transparência não é apenas uma questão moral, mas também uma estratégia que sustenta a valorização da profissão e promove o crescimento do mercado de maneira saudável e colaborativa.