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Clinica Veterinária

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Editorial

Guerras

Editorial 167

Matéria escrita por:

Maria Angela Sanches Fessel

1 de nov de 2023

Flor de lótus. Créditos: nuttakit Flor de lótus. Créditos: nuttakit

Gestos de violência extrema e de indiferença para com todos os seres vivos, animais, humanos ou não, plantas, fungos. Enfim, destruição da vida, extermínio de espécies e de espécimes, sofrimento, dor, desespero, aflição. Tudo naturalizado pelas demandas do dia a dia, pela grande mídia, pela cegueira, pelo sono que nos domina.

Como pessoas conectadas à ciência, assistimos a esse dantesco cenário de escassa compaixão entre seres humanos, de grande indiferença diante do assassinato de crianças, jovens, idosos, enfermos, mães e pais, de descaso com a imensa quantidade de bancos genéticos dizimados e espécies que desaparecem.

Mudança climática? Muitos ainda insistem em negá-la, assim como em não atentar para a miséria que se vê pelas ruas e para as doenças negligenciadas. Continuamos com nossas vidas cotidianas, com as ruas cheias de cães vadios com níveis altos de leishmaniose, esporotricose e tantas outras zoonoses. O que falta para tirar-nos dessa letargia e dessa impotência generalizada e aceita?

A maioria prefere ficar alheia, mas são muitos os que se voluntariam, que cuidam e se empenham. E entre esses dois extremos há um amplo espaço que poderia ser mais bem considerado e ocupado. Por todo o planeta há ações de pessoas que, dentro ou fora das fronteiras de seus países, se sensibilizam e se dedicam ao cuidado – de animais, de plantas, de comunidades humanas, do meio ambiente. Muito sofrimento é minimizado ou evitado, mas resta sempre muito mais a fazer, com iniciativas pequenas ou grandes, voltadas ao cão e ao gato que caminha a esmo pela rua, sem cuidado, com fome, ou a políticas públicas e demandas sociais internas ou internacionais.

Mais gente precisa criar disposição e estímulo, seja em entidades internacionais ou ongs de bairro, para alterar essa situação. Vivemos como em estado de choque, imersos na indiferença predominante diante do horror das guerras, dos incêndios florestais e das catástrofes naturais, fruto da ganância, da ignorância e da má-fé da nossa espécie. A questão, em resumo, é: continuaremos em grande medida sem fazer nada para mudar isso?

Grande parte dos que ingressam no universo da medicina veterinária vêm com o desejo de cuidar, de amparar e de promover saúde. E o planeta inteiro precisa de cuidado, amparo e promoção da saúde, física, mental e espiritual.

Que os horrores possam ser mais bem compreendidos e servir não só para alertar, mas como estímulo e plena justificativa de que, mesmo sendo poucos, sempre podemos fazer um pouco mais. Fechamos mais um ano, marcado pela renovação de esperanças e pela constatação de quanto resta ainda de ódio e cegueira.

A vida segue, o tempo passa, e a guerra ainda está longe, mas de certo modo está aqui também, assim como o incêndio, a falta de energia, o cão com leishmaniose dentro de nossa casa, o gato com esporotricose dormindo com nossos filhos. Algo precisa mudar em nossa atuação agora. A cada momento. A indiferença não cabe mais.

Venha, 2024. 

Que a compaixão e o perdão sejam mais bem percebidos e interiorizados. 

Que a gratidão seja mais bem percebida e interiorizada. 

Que os seres humanos entendam o que é o amor, o único sentido da vida. 

Enquanto é tempo.