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O que os tutores precisam saber sobre microchips

Como o médico-veterinário pode contribuir

Matéria escrita por:

Marcelo Sader, Luciana Midori Murata

5 de jan de 2022

Microchips. Créditos:  Christoph Burgstedt  Microchips. Créditos: Christoph Burgstedt

A história dos microchips é antiga; no entanto, muitos tutores não conhecem o básico sobre esses dispositivos e com isso acabam criando falsos conceitos e expectativas impossíveis de concretizar.

A tecnologia que se refere aos microchips de identificação animal é conhecida como Identificação por Radiofrequência (Radio Frequency Identification Technology – RFID). Os primeiros microchips, ou transponders, como eram chamados, foram usados na Segunda Guerra Mundial. Os alemães, japoneses, americanos e britânicos usavam radares para alertar sobre a aproximação de aviões enquanto ainda estavam a quilômetros de distância. O problema era que não havia como identificar que aviões pertenciam ao inimigo e quais deles retornavam ao seu país depois de uma missão. Os britânicos colocaram então um transponder em cada avião, que modificava o sinal de rádio enviado pelo radar, e dessa maneira a equipe em terra conseguia diferenciar os aviões amigos dos inimigos.

A identificação animal baseada na tecnologia RFID começou a ser usada na década de 1970, em fazendas de criação de gado de leite. A Universidade de Cornell desenvolveu uma etiqueta em cujo interior havia um transponder que ficava pendurado no pescoço do animal. Quando o animal se aproxima de um leitor, uma antena nesse leitor transmite um sinal de rádio para ativar o chip RFID. O chip então envia de volta um sinal contendo o número de identificação do animal. O leitor pode ainda estar conectado a um computador, no qual o número é usado para identificar o registro do animal em um banco de dados. Agricultores e pecuaristas usam etiquetas para monitorar uma série de indicadores, incluindo dosagem de medicamentos, produção de ração, peso e produção de leite. O mesmo princípio se aplica à identificação eletrônica de animais de companhia e animais silvestres; no entanto, nesses casos, os microchips são implantados no tecido subcutâneo dos animais, e os leitores são leves, portáteis e dotados de um display que exibe o número do microchip implantado (Figura 1).

 

Figura 1 – A imagem ilustra os componentes básicos de um microchip, também conhecido como transponder: A) microantena, B) capacitor e C) circuito integrado. Para fazer a leitura, o veterinário aproxima o leitor do ponto em que o microchip foi implantado; o leitor emite um feixe de ondas de radiofrequência; a microantena capta esse feixe de ondas; o capacitor transforma esse feixe de ondas em energia elétrica, que, apesar de muito baixa, é capaz de ler um número armazenado no circuito integrado e enviá-lo por meio de um sinal de rádio de retorno, captado e traduzido pelo leitor, que exibe o número no visor. Créditos: Christoph Burgstedt

 

A mesma tecnologia é usada em lojas de roupas, onde uma etiqueta contendo um microchip é fixada em todos os itens disponíveis no estabelecimento. Caso um consumidor tente sair da loja sem retirar a etiqueta, ao passar por leitores colocados na saída um sinal sonoro é emitido, indicando que o microchip foi identificado.

 

Por que implantar um microchip no animal?

O microchip é um dispositivo de identificação animal. O número gravado no circuito integrado do transponder é único, independentemente da espécie ou do país de origem. Os protocolos internacionais de criação e trânsito de animais são baseados em identificação eletrônica. Os criadores precisam microchipar seus animais para poder registrá-los ou mesmo enviá-los para outros países. O trânsito regional também é regulamentado com base em identificação eletrônica. Os animais silvestres, quer sejam mantidos em zoológico ou em cativeiro, com autorização dos órgãos competentes, também precisam estar microchipados.

A preocupação com o extravio de animais de companhia é um dos motivos que levam os tutores a microchipar seus animais. Alguns fabricantes de microchips mantêm um cadastro online de animais microchipados e liberam o acesso a esses dados para os médicos-veterinários. Assim, se o animal é microchipado, a probabilidade de localizar seu tutor é bem maior do que quando ele é identificado apenas por uma plaquinha.

Recentemente, a identificação eletrônica tem sido usada para reforçar a responsabilidade dos tutores pela guarda dos animais, reduzindo assim o abandono. Diversos estudos mostram que os tutores tendem a não abandonar animais microchipados, pois sabem que poderão ser identificados e seus donos, localizados e até mesmo punidos com multas ou de outras maneiras 1.

 

Trata-se de um dispositivo passivo

É importante salientar que o microchip não tem fonte de energia própria, e por isso é caracterizado como um dispositivo passivo; ou seja, para funcionar, ele depende de uma fonte de energia externa que é fornecida pelo leitor na forma de frequência de rádio.

Outro ponto extremamente importante é o fato de que o microchip tem apenas um número. Informações como nome do animal, telefone de contato com o tutor, histórico de vacinas ou doenças não podem ser armazenadas no microchip. Os veterinários registram o número do microchip nos sistemas de gestão de clínicas veterinárias, e assim é possível acessar todas as informações do animal, inclusive o prontuário clínico.

Frequentemente tutores mal informados criam a expectativa de que o animal microchipado possa ser rastreado via satélite; assim, acreditam que, caso o animal seja roubado ou se perca, possa ser localizado facilmente, o que é um equívoco. A conectividade com celular via bluetooth também não é possível. Cabe ao veterinário explicar de maneira inequívoca o escopo da tecnologia de RFID e deixar claro quais são os seus recursos e as suas limitações.

A inserção do microchip é segura, sendo possível aplicá-lo sem necessidade de anestesia ou sedação, pois a agulha é semelhante às utilizadas na rotina veterinária, diferenciando-se apenas no tamanho do calibre, e a aplicação é feita geralmente entre as escápulas (Figura 2). O microchip é do tamanho de um grão de arroz (Figura 3). Ele é envolvido por uma cápsula de biovidro cirúrgico revestida de substâncias antimigratórias, sendo quase nulas a rejeição e a migração, visto que se forma uma cápsula de fibrose ao seu redor.

 

Figura 2 – A inserção do microchip é uma operação segura e indolor, dispensando anestesia ou sedação. Créditos: LightField Studios

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Figura 3 – Os microchips têm o tamanho de um grão de arroz e são envolvidos por uma cápsula de biovidro cirúrgico. Créditos: Petrovicheva Mariia

 

Equipamentos disponíveis no mercado

A escolha do leitor e dos microchips pode representar um desafio extra para os médicos-veterinários, principalmente para aqueles que não estão acostumados com a tecnologia. A boa notícia é que existem duas normas ISO sobre o tema. Para aqueles que não a conhecem, ISO é a sigla de International Organization for Standardization (Organização Internacional para Padronização). A ISO é uma entidade de padronização e normatização cujo objetivo principal é aprovar normas internacionais em todos os campos técnicos. A padronização internacional sobre microchips são as ISO 11.784 e ISO 11.785 2. Usando equipamentos que atendem a essas duas normas, o médico-veterinário estará trabalhando em conformidade com a maioria dos países e estará amparado pelas boas práticas relacionadas à identificação eletrônica de animais.

Atualmente existem no mercado diversos fabricantes e inúmeros distribuidores dessa tecnologia. Entre elas estão a Virbac, a AnimalITAG e a Microchip Store. Existem também os chamados microchips genéricos vendidos em sites como Alibaba, Mercado Livre, AliExpress e outros. Esses costumam apresentar preços mais baixos; contudo, ao adquirir equipamentos de empresas conceituadas, o médico-veterinário obtém acesso ao suporte e à garantia, benefícios esses que podem ser valorizados junto ao tutor.

Cada fabricante tem seu próprio banco de dados, possibilitando dessa forma a localização de animais perdidos. Infelizmente ainda não há um banco de dados centralizado, mas algumas iniciativas, como a Abrachip, oferecem acesso a plataformas de cadastro e pesquisa de animais a partir do número do microchip 3.

Uma das bases de dados mais bem estruturada, com presença no Brasil e no exterior, é a mantida pela Virbac. Batizada de Backhome, a plataforma oferece ferramentas para o médico-veterinário cadastrar os dados dos animais microchipados, incluindo informações adicionais importantes para ele e para os tutores.

Frequência e compatibilidade estão correlacionadas, pois o microchip funciona a partir de RFID, ou seja, ele emite ondas de radiofrequência medidas em kHz. O modelo de comunicação FDX é um tipo de comunicação capaz de transmitir e receber dados simultaneamente, isto é, a antena e o leitor recebem e enviam informações ao mesmo tempo. Denomina-se FDX o modelo de comunicação, seguido de A ou B, que indica o tipo de frequência emitida. FDX-A representa a frequência de 125 kHz e FDX-B representa a frequência de 134.2 kHz 4.

A característica de conexão, seja USB ou Wi-Fi, indica que o aparelho leitor pode ser conectado a outros aparelhos e transmitir os dados armazenados para computadores e/ou celulares. Importante reforçar que não é possível transmitir dados diretamente do microchip para computadores ou celulares, por isso a importância do leitor.

É interessante analisar critérios mínimos de conformidade (ISO) e desempenho dos leitores e microchips para garantir que estes sejam legíveis em diversas condições de uso, além de garantir suporte caso haja uma eventual necessidade.

As figuras 4 e 5 mostram as principais empresas, leitores e microchips presentes no mercado brasileiro.

 

 

Empresa Frequência Revestimento Normas Tamanho
Virbac 5 FDX-A e FDX-B Parylene-C

ISO 11784
ISO 11785

Nanochip: 1,4 x 8 mm
Microchip Store 6 FDX-B Parylene-C

ISO 11784
ISO 11785
ISO 14223
ABNT-NBR: 14766

Nanochip: 1,4 x 8 mm Microchip: 2,12 x 12 mm
AnimalITAG 7 FDX-B Parylene-C ISO 11784
ISO 11785
Picochip: 1,25 x 7 mm Nanochip: 1,4 x 8 mm Microchip: 2,12 x 12 mm
Destron Fearing 8 FDX-B Biobond®

ISO 11784
ISO 11785

Microchip: 2,1 x 11,5 mm
Figura 4 – Principais empresas e características de microchips no mercado brasileiro

 

Leitor Compatibilidade Memória (registros) Conexões Peso (g) Software
Leitora ISO2 5 FDX-A e FDX-B 1.000 Bluetooth USB 155 Não
Leitor e gravador
RT100 V8 6
ISO 11784/85 2.048  USB 110 Não
Leitor AT02 Net 7 FDX-A e FDX-B 100 Wi-Fi 170 Sim
Global Pocket Reader 9 FDX-B ISO,
HDX ISO,
FDX-A (FECAVA),
Trovan e
Avid criptografados
3.000 Bluetooth USB 308 Sim
Figura 5 – Principais leitores de microchips e suas características no mercado brasileiro

 

Referências

1-Epidemiology of Dog and Cat Abandonment in Spain (2008-2013). https://doi.org/10.3390/ani5020364

2-International Organization for Standardization. https://www.iso.org

3-Abrachip. http://www.abrachip.com.br/

4-Modo de Comunicação RFID. https://www.gta.ufrj.br/grad/12_1/rfid/links/modos_de_comunicacao.html

5-Virbac. https://www.backhome.com.br/

6-MicrochipStore. https://www.microchipstore.com.br

7-AnimalTag. https://www.br.animalltag.com/

8-Destron Fearing. http://d4microchip.com.br/v2/microchip.html

9-Global Pocket Reader Product Overview Brazil. https://www.agroline.com.br/produto/leitor-para-microchips-global-pocket-reader-destron-fearing-107042