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Abandono de animais e o importante papel do clínico veterinário


A disfuncionalidade do vínculo entre pessoas e animais de estimação é resultado de inúmeros fatores que, ao não serem modificados ou cuidados, podem resultar no abandono como tentativa de solução. Entretanto, essa tentativa é por si mesma a causa de problemas nos âmbitos do bem-estar animal, da saúde pública e do ambiente 1.

Para entender o abandono de animais de estimação é preciso entender a cultura na qual esse fenômeno ocorre e as práticas existentes, tanto as que reforçam do vínculo positivo ser humano-animal como as que afetam negativamente esse vínculo, resultando no abandono. As práticas são construções socialmente reconhecidas e executadas pelas pessoas, de forma coletiva ou individual, mas com significado público. É prioridade para a saúde pública compreender que seu dever não se limita a controlar e prevenir patógenos e fatores de risco, mas também inclui conhecer a relação ser humano-animal e suas implicações na promoção da saúde dos indivíduos, famílias e comunidades como um processo social 2.

A prevenção do abandono depende de abordagens articuladas, multidisciplinares e multissetoriais, sendo fundamental a atuação do médico-veterinário no contexto do vínculo entre pessoas e animais de companhia. Com o objetivo de promover tais abordagens, realizou-se uma oficina durante a VII Conferência de Medicina Veterinária do Coletivo, realizada entre os dias 16 e 18 de junho de 2016, em Porto Alegre, pelo Instituto Técnico de Educação e Controle Animal, pela UniRitter e pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul.

Na oficina discutiram-se aspectos sociológicos, antropológicos, ecológicos e de saúde pública 3,4,5 para ampliar a compreensão do abandono, e enfatizou-se o papel do médico-veterinário que, além de avaliar e tratar os processos fisiopatológicos, também deve avaliar e tratar o vínculo ser humano-animal.

O conceito de família multiespécie norteou as discussões tanto dos fatores que favorecem o abandono, como das semelhanças e particularidades das disfuncionalidades que envolvem animais, em relação às que envolvem idosos, crianças ou deficientes humanos. Quanto às fontes de informação que os clínicos podem usar para avaliar o vínculo ser humano-animal, identificaram-se:

• Manejo/manutenção: forma de transporte e manejo do animal antes e durante a consulta, estado físico, evidências de maus-tratos;

• Interação tutor-animal: com portamento do animal na presença do tutor (fuga, agressividade, medo), a forma como o tutor se refere ao animal;

• Motivo da consulta: natureza da queixa, quão evitáveis poderiam ter sido os agravos, adesão e envolvimento com o tratamento prescrito;

• Conhecimento das necessidades do animal: cuidados fornecidos, conhecimento da rotina do animal;

• Estrutura familiar: faixas etárias, espécies, nascimento de futuros membros.

A prevenção do abandono deve se basear, entre outros elementos, nas fontes de informação acima mencionadas, para corrigir falsas expectativas em relação ao convívio com animais e para antecipar e prevenir situações potencialmente problemáticas. Por exemplo, nas famílias com crianças, as mesmas não devem ficar sozinhas com os animais; e famílias esperando um novo membro devem ser esclarecidas quanto à prevenção da toxoplasmose e outras zoonoses.

As tentativas de solução devem se concentrar na prevenção e modificação dos fatores que favorecem a disfuncionalidade, entre os quais se encontram: comportamentos indesejados, mudança de domicílio, saúde humana ou animal, falsas expectativas, gravidez de algum membro da família, nascimento de crianças, desemprego e questões relacionadas com os gastos para a manutenção do animal, crias indesejadas, sujeira, espaço pequeno para a manutenção do animal  6.

 

Referências sugeridas

1-GARCIA, R. C. M. ; CALDERÓN, N. ; FERREIRA, F. Consolidação de diretrizes internacionais de manejo de populações caninas em áreas urbanas e proposta de indicadores para seu gerenciamento. Revista Panamericana de Salud Pública, v. 32, n. 2, p. 140-144, 2012. doi: 10.1590/S1020-49892012000800008.

2-ACERO, M. Oficina sobre abandono. In: CONFERENCIA INTERNACIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO COLETIVO, 7., 2016, Porto Alegre. Anais… Porto Alegre: UniRitter/FAPA, 2016.

3-BAQUERO, O. S. Manejo populacional de cães e gatos: métodos quantitativos para caracterizar populações, identificar prioridades e estabelecer indicadores. Tese (Doutorado em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/10/10134/tde-16122015-105959/>. Acesso em 21 de junho de 2016.

4-CALDERON MADONADO, N. A. Oficina sobre abandono. In: CONFERENCIA INTERNACIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO COLETIVO, 7., 2016, Porto Alegre., Anais… Porto Alegre: UniRitter/FAPA, 2016.

5-FARACO, C. B. Oficina sobre abandono. In: CONFERENCIA INTERNACIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO COLETIVO, 7., 2016, Porto Alegre. Anais… Porto Alegre: UniRitter/FAPA, 2016.

6-LAMBERT, K. ; COE, J. ; NIEL, L. ; DEWEY, C. ; SARGEANT, J. M. A systematic review and meta-analysis of the proportion of dogs surrendered for dog-related and owner-related reasons. Preventive Veterinary Medicine, v. 118, n. 1, p. 148-160, 2015. doi: 10.1016/j.prevetmed.2014.11.002.