2025 é um ano de comemorações! Vamos celebrar juntos os 30 anos da revista!

Menu

Clinica Veterinária

Início Opinião MVColetivo A importância do programa de adoção
MVColetivo

A importância do programa de adoção

Matéria escrita por:

Vania de Fátima Plaza Nunes

8 de abr de 2016


Muitas são as situações em que a adoção é o ponto crucial de um programa abrangente de controle populacional de animais. Dentre os pilares que o compõem, a adoção é talvez o gargalo que todos – serviços de controle animal, protetores independentes, entidades de defesa animal – enfrentam,  uma vez que muitos são os animais que precisam de um novo lar, cuidados gerais e muito afeto. Garantir uma nova e segura oportunidade na maioria das vezes não é tarefa simples.

Em geral, os animais desses programas provêm de situações de altar vulnerabilidade, negligência, maus-tratos e abandono, uma série negativa de substantivos que precisam ser apagados de sua memória afetiva e social e substituídos por outros como afeto, cuidado e respeito, em lares onde a qualidade de vida possa ser redefinida. Será que existe uma forma de planeja e agir que amplie o resultado final de forma positiva?

Na história recente do país, muitas inéditas e desafiadoras situações trouxeram de forma coletiva um grande desafio que não se restringiu ao momento dos fatos. Há cerca de dois anos, na peuqena cidade de Santa Cruz do Arari, PA, diversos cães foram capturados, amarrados, amordaçados e jogados no rio, como forma proposta pelo dirigente local para controlar o excessivo neumero de animais que perambulavam abandonados pelas ruas, gerando muita comoção e indignação (http://goo.gl/wQmRkQ). O caso tomou proporções nacionais, e uma força-tarefa foi montada para salvar muitos daqueles aniamis, prestar os primeiros atendimentos e encaminhá-los para uma ONG que pudesse cuidar deles e encontrar-lhes novos lares. Mas qual terá sido o destino daqueles animais?

No final do ano passado, outra situação inédita e de grande repercussão nos surpreendeu com o rompimento da barragem de Fundão em Mariana, quando mais de três mil animais precisaram ser resgatados. Nesse caso, não só os cães foram afetados, mas também gatos, cavalos, porcos, galinhas e outros animais domésticos, e também alguns animais silvestres.

Nos dois episódios, vários animais morreram no momento dos fatos ou depois, quando já resgatados, não puderam superar as lesões, o sofrimento ou as enfermidades a que se expuseram.

Além desses casos, outros anteriores, em Santa Catarina, Rio de Janeiro (Petrópolis e Teresópolis) e Pernambuco (Recife), mostraram que os animais, assim comos os seres humanos, são também vítimas de situações de grandes proporções, sofrem e necessitam de cuidados, recuperação e uma nova vida. E qual terá sido o destino de todas as vítimas dessas situações tão sofridas e peculiares? Aqui voltamos aos programas de adoção.

No início de fevereiro, fomos surpreendidos com a notícia da grave situação enfrentada pela ONG Au Family, no Pará, a entidade que assumiu a responsabilidade pelos animais provenientes do resgate de Santa Cruz do Arari e que vem arcando com todos os cuidados básicos de sua saúde e sobrevivência. Subitamente, os órgãos públicos notificaram a entidade a mudar os animis de local e soliticaram uma grande quantidade de documentos. Porém, segundo o relato da presidente da entidade, o número de animais aumentou de forma significativa, e hoje ali não existem só os cães prontamente acolhidos no momento de risco, mas animais de toda comunidade do entorno que não tem acesso a serviços de saúde animal e controle populacional, gerando mais abandono e situações críticas.

De outra forma, no caso de Mariana, vemos que o caos inicial tem sido, desde o primeiro momento, bem administrado por profissionais médicos-veterinários e voluntários da proteção animal. Hoje, mais de 100 dias depois, existe uma ação estruturada de responsabilidade da própria causadora do caos, a empresa Samarco, que, com o suporte técnico e responsável desses profissionais, vem organizando o destino humanitário dos animais.

Um programa específico para adoção já está se iniciando, mas ainda há muito a fazer, e a participação da sociedade é fundamental.

É muito importante entender que há princípios básicos a observar, seja em ações particulares e constantes na adoção de animais em qualquer localidade, seja em ações especiais como as que aqui foram exemplificadas. Primeiro, existe o ponto-chave das fontes de financiamento, planejamento, estrutura de apoio e presença de profissionais tecnicamente capacitados para cada etapa. Depois, é preciso ter claro que sem a participação da sociedade na adoção desses animais, esse programa nunca será bem-sucedido.

No momento do abandono ou da situação de crise e dano ambiental, muitos se comovem, mas apenas alguns se mobilizam de fato. Além de algumas ações diretas, a mais comum é a arrecadação de materiais, medicamentos e alimentos, entre outros, para envio. Entretanto, passado o primeiro momento, a maioria se esquece de que aqueles animais precisam voltar a fazer parte de um lar ou de uma comunidade para poder continuar suas jornadas.

Nesse ponto, os programas de adoção entram como uma ferramenta que, se bem aplicada, pode minimizar os traumas gerados, independentemente do que ocasionou o abandono ou a perda.

Alguns pontos-chaves são fundamentais para garantir um resultados positivo num programa de adoção:

• castração de cães e gatos em condições adequadas, observando princípios éticos;

• vacinação e desverminação com cuidados espécie-especificos;

• registro de cada animal, sempre que possível com microchips e banco de dados;

• uso de imagens e slogans positivos sobre a adoção e seu papel social;

• boa avaliação dos interessados na adoção com entrevistas e, se possível, visitas às casas que receberão os animais;

• esclarecimento prévio do que é adoção, responsabilidade e deveres, e fornecimento de um guia de orientações básicas, com meios de contato com os responsáveis pela adoção;

• avaliação periódica do local e do animal por uma prazo que pode variar mas não se menor que seis meses, para verificar sua saúde física e mental, e como ele está se relacionando com a família que o acolheu;

• manter um canal de diálogo, esclarecimento e orientação para dirimir dúvidas.

Só assim podemos garantir que um número de animais alcance um final feliz em um novo lar e em uma nova família, seja em casos isolados ou em situações coletivas.