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Animal silvestre é pet?

Argumentos desfavoráveis

Matéria escrita por:

Mauricio Forlani

17 de mar de 2024


Ararinha-azul (Cyanopsitta spixii). Créditos: Danny Ye

 

Acredito que o primeiro ponto a colocar é que animais silvestres, sejam nativos ou exóticos, não são animais domésticos, e que o processo de domesticação vem ocorrendo há milhares de anos, impactando negativamente a qualidade de vida desses animais e sua conservação. A história da evolução humana demonstra que não se trata da incapacidade do homem para domesticar algumas espécies de animais, mas sim da incompatibilidade, principalmente comportamental e genética, de animais silvestres à domesticação em si.

Nascer em cativeiro não torna uma espécie doméstica nem faz com que ela perca seus comportamentos e necessidades naturais. Em geral, os animais encontrados no mercado pet podem ser “domados” ou habituados, mas não domesticados.

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Papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva). Créditos: Ondrej Prosicky

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Para nós, do Instituto Ampara Animal, o mercado pet é uma atividade desnecessária que praticamos como espécie humana e que afeta diretamente a vida de milhões de animais, trazendo consequências para a nossa biodiversidade e até mesmo impactos econômicos e que afetam a saúde do planeta.

O mercado pet traz a mensagem de “amor aos animais”, o que é um sentimento legítimo, mas a que custo? Faz sentido submeter os animais a uma vida de privação de seus comportamentos naturais, impedindo-os de exercer seu papel na natureza e de conviver com outros da sua espécie para se tornarem meros objetos de desejo e apropriação?

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Cascudo-zebra (Hypancistrus zebra) sob cuidados humanos. Créditos: boban_nz

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A normalização da manutenção de animais silvestres como animais de estimação favorece o distanciamento da sociedade em relação à fauna livre em seus habitats naturais, seja nas cidades ou em densas matas. Essa normalização faz com que acreditemos ser aceitável uma ave não voar, uma serpente não se esticar, e até mesmo acreditar que papagaios falam, quando na verdade reproduzem sons diversos. Biologicamente falando, estamos aniquilando as funções biológicas desses seres para nos servir (e isso é extremamente prejudicial a todos nós). Todas essas percepções deturpam nosso entendimento sobre o papel dos animais silvestres nos ecossistemas, humanizando-os e contribuindo com um sistema de exploração, como a criação intensiva, a exposição e a venda, sem nos preocuparmos de forma efetiva com o bem-estar e a conservação desses animais.

O tráfico de animais só existe porque aceitamos ver animais presos em gaiolas fora de seus habitats, e, com isso,  o mercado pet é uma das maiores ameaças à conservação da biodiversidade. Basta ver o histórico da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), do bicudo (Sporophila maximiliani), do cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata), do cascudo-zebra (Hypancistrus zebra) e de outras espécies espalhadas pelo mundo, que estão fortemente ameaçadas, principalmente pela demanda do mercado pet.

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Cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata). Créditos: Foto 4440

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Não faltam argumentos e justificativas técnicas para repudiarmos o costume de ter animais silvestres como animais de estimação. Devemos mudar nossa relação de “amor” com a fauna. Respeitar a liberdade e os animais silvestres como eles são faz a sociedade, de fato, amar os animais.