I Simpósio Paulista de Leishmaniose debateu avanços no diagnóstico e controle da doença
Evento contou com patrocínio do CRMV-SP e destacou medidas preventivas e impacto na saúde pública
A Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” campus Araçatuba (FMVA-Unesp) promoveu o I Simpósio Paulista de Leishmaniose (SPleish 2025) de 14 a 16 de agosto de 2025. O evento, que contou com o apoio do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) como um dos patrocinadores, reuniu especialistas para discutir temas essenciais no enfrentamento da leishmaniose como a imunologia da doença e os avanços nos testes diagnósticos da leishmaniose visceral (LV) canina.
A docente da FMVA-Unesp e integrante da Comissão Técnica de Educação do CRMV-SP, Gisele Fabrino Machado, uma das coordenadoras do Simpósio, destacou pontos de impacto direto na prática veterinária. “No contexto da Uma Só Saúde e do controle epidemiológico é necessário implementar ferramentas modernas de georreferenciamento associadas a estudos ambientais, como vegetação, fontes de água e mudanças climáticas, que influenciam na multiplicação e disseminação do vetor” afirmou.
O tema foi aprofundado na palestra “Análise Espaço-Temporal, Vulnerabilidade Social e Fatores de Risco para Leishmaniose Visceral em Área Endêmica do Noroeste Paulista” apresentada por Talita Carolina Bragança de Oliveira, docente no curso de medicina veterinária do Centro Universitário UniToledo, que reforçou a importância de disponibilizar essas ferramentas para os municípios agilizando a vigilância e dando maior visibilidade aos dados coletados.
Outro ponto ressaltado por Gisele foi a necessidade de monitorar a ocorrência da doença em cães, visando prevenir casos em humanos. “O encoleiramento dos cães continua sendo uma das medidas mais eficazes de proteção. A redução de casos em animais impacta diretamente no controle da doença em pessoas. Quanto à detecção do parasita em espécies silvestres, como o javali, ainda não existem estudos que comprovem sua transmissão para seres humanos ou outros animais” explicou.
A conselheira do CRMV-SP e médica-veterinária do biotério da FMVA-Unesp, Daniela Scantamburlo Denadai, também enfatizou os avanços no diagnóstico da LV canina. “Os novos testes aumentam a sensibilidade e a especificidade dos resultados. Identificar corretamente quais espécies circulam nas regiões endêmicas fortalece a vigilância epidemiológica e favorece a adoção de estratégias de controle mais eficazes” destacou.
Sintomas clínicos
É importante destacar que a leishmaniose visceral canina pode se manifestar com uma ampla variação de sinais e sintomas clínicos. Segundo a coordenadora do SPleish, Gisele Fabrino Machado, um dos temas gerais discutidos no Simpósio foi justamente o das apresentações atípicas da doença que podem incluir enterite, miocardite, glossite e efusões cavitárias em cães, além de manifestações em outras espécies como equinos e felinos, nos quais as alterações clínicas mais comuns são cutâneas.
A palestra do professor Alexandre Lima de Andrade intitulada “Importância do reconhecimento das manifestações oftálmicas para diagnóstico na LV” reforçou a relevância do exame oftalmológico em cães de áreas endêmicas. Isso porque algumas alterações oculares podem ser discretas no início da infecção e, em certos casos, os animais podem apresentar apenas sinais de lesão ocular como manifestação da leishmaniose.
A conselheira do CRMV-SP e médica-veterinária da FMVA-Unesp Daniela Denadai ressaltou a necessidade de atenção aos sinais precoces e de uma investigação clínica completa. “É fundamental avaliar o contexto sistêmico do animal e realizar testes específicos para a leishmaniose que pode estar correlacionada à oftalmopatia. Além dos exames mais utilizados, como os realizados com sangue e aspirado de linfonodos, foi amplamente incentivado, embora não seja considerado padrão-ouro, o uso do swab ocular como ferramenta diagnóstica especialmente em animais com sintomas oftálmicos” explicou.
Testes rápidos e vacinas
A busca por testes diagnósticos mais rápidos, sensíveis, específicos e de baixo custo que possam ser aplicados diretamente em campo foi um dos destaques do SPleish 2025. O tema foi abordado na palestra “Novidades em Diagnóstico da Leishmaniose Visceral Canina” ministrada por Trícia Maria Ferreira de Sousa Oliveira, professora da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (Fzea-USP).
Segundo a coordenadora do simpósio Gisele Machado, a tecnologia mais promissora atualmente é o PCR Lamp (Loop-mediated isothermal amplification), capaz de amplificar o DNA do parasita de forma simples e rápida, sem a necessidade de um termociclador, equipamento de alto custo. “Apesar do potencial, esse teste ainda não está disponível comercialmente, nem é reconhecido como técnica padrão. No momento, o diagnóstico deve ser realizado com testes rápidos para triagem confirmados por sorologia (Elisa) e PCR” explicou.
A conselheira do CRMV-SP e médica-veterinária da FMVA-Unesp, Daniela Scantamburlo Denadai, reforçou outro ponto de atenção: as dificuldades persistentes no desenvolvimento de vacinas e tratamentos eficazes. “Esse é um dos maiores desafios para o controle da leishmaniose. É essencial garantir investimentos contínuos em pesquisa tanto para promover benefícios à saúde animal, quanto para avançar na saúde pública, já que a doença é uma zoonose com número crescente de casos em seres humanos no Brasil” concluiu.

