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Controle de capivaras em ambientes urbanos

Matéria escrita por:

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto

22 de jan de 2016

Créditos: Arthur Barretto Créditos: Arthur Barretto

Em setembro de 2015, durante a realização da VI Conferência Internacional de Medicina Veterinária do Coletivo, em Belo Horizonte, MG, destacou-se a palestra de manejo populacional de capivaras realizada pelo prof. dr. Tarcízio Antônio Rêgo de Paula, da Universidade Federal de Viçosa. O tema apresentado foi muito apropriado, pois, assim como em outras cidades brasileiras, a lagoa da Pampulha, na capital mineira, sofre com a procriação de capivaras e a falta de ações que realmente resolvam o problema. Por enquanto, a remoção de capivaras da lagoa da Pampulha e sua manutenção no Parque Ecológico José Lins do Rego somente serviu para que dezenas sucumbissem até a morte.

No condomínio Alphaville, na cidade de Campinas, SP, para tentar resolver o problema do controle das capivaras, escolheu-se o abate, feito por um médico-veterinário contratado pelo próprio condomínio, procedimento autorizado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente.

Tanto a conduta adotada em Belo Horizonte como a medida tomada em Campinas tentaram resolver o problema de forma imediata. Porém, não atuaram sobre a formação e a ocupação das áreas afetadas por novos bandos de capivaras. Muito diferente do que acontece em Viçosa, MG, onde a população de capivaras no campus universitário da Universidade Federal de Viçosa é mantida sob controle há anos. Para que isso fosse possível, o prof. dr. Tarcízio Antônio Rêgo de Paula realizou uma pesquisa sobre o comportamento das capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris LINNAEUS, 1766) para desenvolver seu plano de manejo reprodutivo é que os animais não podem ser todos castrados. Alguns precisam se manter reproduzindo para que a população mantenha sua hierarquia e estabilidade; outros não deverão se reproduzir, mas deverão manter o instinto reprodutivo e marcar o território, que se obtêm, por exemplo, utilizando nos machos a técnica da deferentectomia. A escolha dos indivíduos para cada procedimento cirúrgico não pode ser aleatória. Ele deve ser feita com base no estudo do comportamento do bando, identificando os líderes e os demais integrantes.

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Conforme a hierarquia do grupo, indivíduos foram selecionados para procedimentos cirúrgicos envolvendo a castração ou deferentectomia em plano de manejo de capivaras (Hydrochoerus hydrichaeris) de vida livre no campus da Universidade Federal de Viçosa. O plano de manejo teve início com noventa capivaras em três grupos familiares. Após o início do plano de manejo, a população total caiu para 24

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Audiência pública

Em decorrência da eliminação de vinte capivaras que estavam no condomínio Alphaville, em Campinas, SP, e dos diversos protestos contra essa atitude extrema, o deputado estadual Feliciano Filho (PEN-SP) promoveu, em novembro de 2015, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, audiência pública com o tema “Febre maculosa: matar capivaras resolve?”.

Entre os convidados para fazer uma exposição sobre as capivaras estavam o prof. dr. Tarcízio Antônio Rêgo de Paula, da Universidade Federal de Viçosa, e o biólogo Sérgio Greif, membro da Comissão Antivivissecciconista da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Ambos foram enfáticos em afirmar que tanto matar como remover as capivaras não resolve o problema. Dr. Tarcísio destacou um ponto importante: as capivaras, uma vez infectadas, ficam doentes por sete a doze dias – depois disso se curam sozinhas e ficam imunes à doença, não atuando mais como vetores de transmissão da febre maculosa. “Retirar animais não só não resolve como piora a situação, pois novos animais chegarão ao local, os quais, por não estarem imunes, vão se infectar”, enfatizou. “Além disso, retirar capivaras de um ambiente só faz com que o carrapato procure outro animal para sobreviver”, completou Sérgio Greif.

“Os dois objetivos principais da audiência pública foram alcançados”, celebrou Feliciano:

1 – mostrar que a Secretaria Estadual do Meio Ambiente se precipitou ao autorizar a eliminação das capivaras do condomínico Alphaville, de Campinas, seguindo apenas a opinião equivocada da Sucen, sem antes conhecer trabalhos consagrados;

2 – criar um grupo de trabalho, a Comissão Capivara Viva, para buscar soluções técnicas definitivas, a fim de diminuir o risco de contaminação da febre maculosa sem a matança de capivaras.

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Capivaras no Parque Barigui, em Curitiba, PR. Créditos: Arthur Barretto