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Considerações sobre animais silvestres como animais de companhia

Matéria escrita por:

Clínica Veterinária

13 de mar de 2024

Papagaio chauá (Amazona rodochoryta). Créditos: Marcelo Silva Gomes / Adriana Labate  Papagaio chauá (Amazona rodochoryta). Créditos: Marcelo Silva Gomes / Adriana Labate

Papagaio chauá (Amazona rodochoryta). Créditos: Marcelo Silva Gomes / Adriana Labate

 

Animais silvestres como animais de companhia é um tema complexo, que envolve diferentes aspectos e pode ter consequências importantes sobre o bem-estar de milhares de animais e pessoas, mas também sobre a conservação das espécies e a saúde dos ecossistemas, além da saúde pública e do agronegócio. Assim, é imprescindível que se discuta amplamente a validade e a viabilidade de manter animais de espécies não domésticas como animais de estimação.

O primeiro ponto é destacar que a discussão ocorre sobre a utilização de animais silvestres provenientes de criadouros devidamente autorizados pelos órgãos gestores da fauna em nível federal e estadual e não sobre o tráfico de animais, que é crime e deve ser combatido energicamente.

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Cacatua-de-crista-amarela (Cacatua galerita). Créditos: Bill Perry

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Nesse sentido, parece claro que estimular a criação de animais silvestres em cativeiro, ou sob cuidados humanos, deverá gerar uma oferta de indivíduos saudáveis e não estressados a um preço competitivo em relação aos capturados na natureza, e que isso, por si só, representa um grande impacto na atividade do tráfico de animais. Por que alguém correria o risco de incorrer em crime ou de levar doenças para dentro de casa ao adquirir um animal ilegal, se há animais legais disponíveis por um valor justo? 

Outro ponto inequívoco é que o crescimento da atividade veterinária voltada para os animais silvestres ou exóticos de estimação trouxe ganhos consideráveis à medicina de animais silvestres, inclusive aqueles que não são de estimação. Hoje, por exemplo, os centros de triagem que lidam com aves resgatadas do tráfico ou de acidentes antrópicos e os centros de reprodução de espécies ameaçadas têm à disposição um arsenal muito bom de rações, medicamentos e mesmo profissionais competentes que provavelmente não existiriam apenas para atender a objetivos de conservação das espécies.

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Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus). Créditos: Marcelo Silva Gomes / Adriana Labate

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Todavia, alguns pontos precisam ser considerados – entre eles, a necessidade de determinar as espécies silvestres ou exóticas que poderiam ser criadas, considerando entre outros os riscos de invasão dos habitats e os desequilíbrios ecológicos. O exemplo das pítons-birmanesas, que desde o final do século passado se instalaram no ecossistema de Everglades, na Flórida, EUA, é terrível e não pode ser desprezado e é um entre muito outros. Além disso, há a sempre questionada capacidade dos órgãos fiscalizadores de acompanharem de forma eficiente e realista a atividade dos criadouros, garantindo a procedência dos animais comercializados. E é preciso lembrar que desde 2011 a Lei Complementar no. 140 confere aos estados brasileiros papel primordial no licenciamento e na fiscalização de empreendimentos de fauna, o que tende a deixar a gestão desses recursos fragmentada e mais frágil perante as ingerências da política regional. 

É preciso que se discuta intensa e urgentemente, sem preconceitos, se há realmente possibilidade e viabilidade de utilizar a fauna silvestre como um recurso natural renovável. E, se for o caso, a partir daí implementar normas, leis e estratégias claras, abrangentes e cientificamente baseadas, que permitam o estabelecimento de sistemas de criação e comércio biologicamente sustentáveis, economicamente viáveis e socialmente justificáveis, constituindo assim um verdadeiro instrumento de conservação.  

Nesse sentido, trazemos para a discussão argumentos de renomados profissionais com o objetivo de ampliar a análise da situação, que precisa ser sempre e muito bem discutida, abrangendo os mais diversos envolvidos.