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A nutrição como aliada no manejo de cães com alterações dermatológicas

Matéria escrita por:

Christiane Seraphim Prosser

6 de abr de 2016

Créditos: Magdalena Szachowska Créditos: Magdalena Szachowska

A nutrição tem um papel importante na dermatologia canina. Além de ser um fator essencial na prevenção de doenças, algumas cutâneas, é também uma ferramenta terapêutica na dermatopatias alérgicas, queratosseborreicas e metabólicas. Vários estudos foram realizados para identificar nutrientes envolvidos na cicatrização, relacionados aos processos de reepitelização e estimulação do sistema imune.

A pele tem uma intensa taxa de renovação celular, e por isso necessita receber quantidades adequadas de nutrientes para que sua estrutura e funções sejam adequadamente mantidas. A ingestão de proteínas, gorduras, carboidratos, vitaminas e minerais em teores balanceados é vital para melhorar a reparação cutânea. Tais nutrientes são necessários para atender a demanda de energia requerida para a proliferação celular, migração, fagocitose e produção da matriz e dos tecidos conjuntivo, endotelial e epitelial. Por também auxiliar o processo cicatricial, além de melhorar a função imune, o zinco e as vitaminas A e C devem ser fornecidos ao animal conforme suas necessidades nutricionais. A vitamina E é capaz de reduzir a produção e a liberação de mediadores inflamatórios em culturas mastocitárias, o que sugere que tal modulação também ocorra em cães atópicos, por exemplo.

A dermatite atópica em seres humanos é caracterizada por um aumento da perda de água transepidérmica secundária a uma alteração na camada lipídica da epiderme, e acredita-se que o mesmo ocorra em cães. As ceramidas (em especial, a ceramida-1) são consideradas o componente mais importante da camada lipídica da pele, que compõe a barreira cutânea e desempenha importante função na manutenção de sua hidratação. Cães com dermatite atópica têm uma camada lipídica cutânea anormal em seu estrato córneo. Defeitos nessa camada aumentam a exposição natural do organismo aos alérgenos, o que facilita sua penetração na pele, promovendo a produção de uma resposta inflamatória. O teste de perda de água transepidérmica (TWEL {transepidermal water loss}) pode ser utilizado para avaliar os efeitos dos nutrientes  no fortalecimento da barreira cutânea.

Estudos in vitro (com cultivos de queratinócitos) conduzidos pelo Centro Waltham de Pesquisas para Nutrição de Pets demonstraram que alguns nutrientes associados (especialmente nicotinamida, ácido pantotênico, histidina, inositol e colina {coquetel de barreina cutânea Pinch}) melhoraram a estrutura e a função da pele. Outros (piridoxina e prolina) estimulam a síntese de ceramidas. Alguns estudos in vivo apoiam essa hipótese. Em um deles verificou-se que, após a suplementação de nicotinamida, ácido pantotênico, histidina, inositol e colina por nove semanas, houve redução significativa da perda de água transepidérmica em cães com dermatite atópica. Tal diminuição pode influenciar positivamente a redução da penetração de alérgenos na pele e também limitar a colonização bacteriana e fúngica, que podem incitar o desenvolvimento das manifestações clínicas de alergia. Outro estudo investigou os efeitos de dietas enriquecidas com Pinch para promover a reparação da barreira cutânea durante o primeiro ano de vida de cães na incidência das manifestações clínicas de dermatite atópica, em comparação com os de dietas não suplementadas (controle). Onze cadelas prenhes da raça labrador retriever foram alimentadas aleatoriamente com uma dieta enriquecida com o coquetel de barreira cutânea (n=5) ou com uma dieta de controle não suplementada (n=6) a partir de 5 semanas pré-parto. Subsequentemente, 80 filhotes foram selecionados e alimentados com uma das duas dietas por um período de um ano e avaliados ao longo de dois anos. Os resultados desse estudo sugerem que uma dieta para cães formulada com Pinchi pode adiar as manifestações de dermatite atópica.

Os ácidos graxos ômega-3 (p. ex. ácido alfa-linolênico, ácido eicosapentaenoico {EPA} e ácido docosa-hexanoico {DHA}, presentes no óleo de peixes marinhos), os ácidos graxos ômega-6 (p. ex. o ácido linoleico presente no óleo de linhaça e o ácido gama-linolênico {GLA} presente no óleo de borragem) são agentes que podem auxiliar o tratamento da atopia e dos processos inflamatórios cutâneos em geral. Com relação às doenças cutâneas, tanto o ômega-3 quanto o ômega-6 (GLA) parecem apresentar propriedades anti-inflamatórias, porém têm mecanismos de ação diferentes. O efeito anti-inflamatório do ômega-6 está relacionado à síntese do ácido di-homo-gama-linolênico (DGLA) a partir da ingestão alimentar de GLA. O DGLA pode eventualmente ser convertido em ácido araquidônico, um potente mediador inflamatório, porém tal processo é lento. Existem ainda três outros metabólitos do DGLA que contribuem para sua ação anti-inflamatória, além do fato de esse poder ser convertido em prostaglandinas (PGE1) menos inflamatórias. O DGLA inibe a liberação de ácido araquidônico pela membrana celular, e pode ser convertido em um potente ácido graxo que inibe o ciclo da lipoxigenase. Já o ômega-3 compete diretamente com o ácido araquidônico pelas lipoxigenases e cicloxigenases enzimáticas. Além disso, a ceramida-1 contém ácido linoleico, por isso acredita-se que esse ácido graxo tenha um papel importante na função da barreira cutânea.

O alimento tem grande importância na homeostase cutânea e pode auxiliar o tratamento de diversas dermatoses. A correção do aporte de nutrientes como proteínas, zinco e ácisos graxos essenciais é fundamental para a manutenção da saúde da pele. Em  uma consulta dermatológica, o clínico deve sempre avaliar a dieta de seu paciente detalhadamente, certificando-se de que ele consuma todos os nutrientes em quantidades suficientes (as necessidades podem variar de acordo com a raça, idade, predisposição a alergias, etc.). Outros nutrientes, como o complexo Pinch, podem fortalecer a barreira cutânea, diminuindo a vulnerabilidade da pele a alérgenos e processos inflamatórios.

 

Referências sugeridas

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