2025 é um ano de comemorações! Vamos celebrar juntos os 30 anos da revista!

Menu

Clinica Veterinária

Início Notícias Entidades Conselhos CFMV Educar sem presença é arriscar a saúde de todos
CFMV

Educar sem presença é arriscar a saúde de todos

Matéria escrita por:

Ana Elisa Fernandes de Souza Almeida

2 de jun de 2025


Medicina veterinária é presença. É contato direto com o animal, com a comunidade, com a realidade do campo ou do laboratório. É uma profissão que exige precisão técnica e sensibilidade diante da dor. Que atua onde a saúde se entrelaça entre espécies, no controle de doenças, na produção de alimentos e na preservação ambiental.

Não se forma esse profissional diante de uma tela. A recente ampliação dos cursos semipresenciais e a liberação de novas vagas em instituições privadas levantam um alerta urgente: qual o futuro que estamos desenhando para a saúde no Brasil?

Certamente, não é de interesse público entregar diplomas sem garantir preparo. Estudantes se tornam vítimas de promessas vazias. Animais, de erros evitáveis. E a sociedade inteira pode pagar caro por decisões apressadas.

Um estudo conduzido pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) evidenciou um retrato preocupante: muitos cursos enfrentam déficits estruturais sérios. Faltam laboratórios bem equipados, bibliotecas atualizadas, professores em número e formação adequados. Ainda assim, seguem sendo autorizados — e agora em um novo formato que dilui ainda mais a vivência prática.

Hoje, 28 cursos de medicina veterinária funcionam de forma semipresencial, somando mais de 36 mil vagas. Dez novas instituições receberam aval para atuar nessa modalidade, sendo que duas concentram mais de 8,5 mil vagas cada. Isso significa que 23 mil novas vagas podem ser abertas de uma só vez — e que até 30% dos futuros médicos-veterinários poderão concluir a graduação sem contato suficiente com a realidade profissional.

É preciso dizer com todas as letras: não se aprende cirurgia em PDF. Não se compreende o comportamento de um animal por videoaula. Não se protege a saúde pública a partir de simulações.

Não se trata de resistir à inovação. Mas sim de reconhecer os limites éticos e técnicos do que pode – ou não – ser virtualizado. Cursos da área da saúde demandam formação prática, integrada e supervisionada. A formação à distância desarticula esse processo e fragiliza todo o ecossistema de cuidado.

A educação não pode ser um negócio à parte da realidade. Não podemos permitir que a lógica do lucro se sobreponha à missão de formar profissionais que lidam com vidas. Que cuidam de rebanhos e famílias. Que detectam doenças e fiscalizam alimentos. Que salvam, previnem e protegem.

O CFMV defende a suspensão da modalidade semipresencial para cursos de medicina veterinária e demais áreas da saúde. E clama por critérios mais rigorosos na regulação e fiscalização da oferta educacional. Quem forma para salvar vidas precisa estar presente desde o primeiro dia de aula.

 

CFMV

https://www.cfmv.gov.br/