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VII Simpósio Internacional de Medicina Veterinária de Desastres

Integração, aprendizado e vivência em campo

Matéria escrita por:

Gabriel Akaui Cespedes, Lara Diniz Pereira

19 de nov de 2025

Participantes e organização do VII Simpósio Internacional de Medicina Veterinária de Desastres. Créditos: Gabriel Lage Participantes e organização do VII Simpósio Internacional de Medicina Veterinária de Desastres. Créditos: Gabriel Lage

Nos últimos anos, a Medicina Veterinária de Desastres tem se consolidado como uma área essencial dentro da saúde única e da gestão de emergências ambientais no Brasil. O aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos evidencia a necessidade de profissionais capacitados para atuar em situações críticas que envolvem animais.

Entre os dias 13 e 19 de outubro de 2025, ocorreu o VII Simpósio Internacional de Medicina Veterinária de Desastres. A edição deste ano reuniu profissionais, pesquisadores e estudantes de diversas regiões do Brasil e de outros países.

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Prática de resgate técnico de grandes animais. Créditos: Lara Diniz

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Simulação de protocolo START. Créditos: Lara Diniz

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O simpósio foi estruturado em duas etapas. A fase teórica, realizada de forma on-line entre os dias 13 e 15 de outubro, contou com palestras nacionais e internacionais abordando temas como gestão de animais em situações de crise, logística de resposta e atuação do médico-veterinário em desastres. Já a parte prática, realizada entre os dias 16 e 19 de outubro, ocorreu na Fazenda Escola da Una, em Contagem, MG, e proporcionou uma imersão realista, com simulações de resgate técnico de animais, montagem de centro de comando de incidentes e exercícios de resposta em campo.

O evento é realizado pelo Grupo de Resgate Animal de Belo Horizonte (GRABH), com o apoio do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais (CRMV-MG), da Comissão Federal de Medicina Veterinária de Desastres do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) e contou com equipamentos patrocinados pela JP Farma. Essas instituições têm investido, nos últimos anos, em capacitação e integração de profissionais voltados à atuação em emergências e desastres envolvendo animais.

Durante os três dias de programação teórica, o simpósio contou com palestrantes de renome nacional e internacional, que compartilharam experiências e diretrizes sobre prevenção, mitigação e resposta a desastres envolvendo animais. A abertura foi conduzida por Affonso Júnior, presidente do CRMV-MG, e Aldair Pinto, diretor do GRABH. A médica-veterinária Glória Alcázar, da Colômbia, apresentou um panorama sobre as diretrizes latino-americanas de resposta a desastres e o contexto legislativo regional, trazendo reflexões sobre a integração de políticas públicas na área.

Outros nomes de destaque integraram o evento, como Cláudio Zago do Brasil, membro da Comissão Nacional de Desastres em Massa do CFMV; Andrea Burgos do Chile, diretora da Comissão Nacional de Resposta a Desastres do Colégio Médico-Veterinário do Chile; e Rosângela Ribeiro Gebara do Brasil, referência nacional em bem-estar animal e ex-gerente da World Animal Protection, que abordou o tema Como preparar cidades vulneráveis para o alojamento de animais.

No segundo dia de palestras, o simpósio recebeu novamente a ilustre presença de Nuno Paixão de Portugal, pioneiro na medicina veterinária de desastres e com histórico de atuação em grandes catástrofes, como o 11 de setembro e o Furacão Katrina; Leonardo Maggio de Castro do Brasil, fundador da RTA Brazil e especialista em suporte básico e avançado de vida para grandes animais; Adriana Noacco da Argentina, referência internacional em medicina veterinária do coletivo; Cláudia Edwards do México, especialista em gestão de animais em desastres; e Pedro Kraus do Chile, referência em resgate técnico de grandes animais.

O terceiro dia teórico contou com palestras de Paula Aravena do Chile, diretora do Centro de Reabilitação de Fauna Silvestre da Universidade de Concepción; Paula Helena Santa Rita do Brasil, coordenadora do Grupo de Resgate Técnico Animal do Pantanal (Gretap/MS); Mario Sapón da Guatemala, com experiência em desastres vulcânicos; Bianca Gresele do Brasil, psicóloga especialista em saúde mental e luto na medicina veterinária; e Guillermina Manigot da Argentina, que discutiu estratégias de gestão de desastres envolvendo animais.

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Grupo de participantes do simulado noturno de resgate técnico de grandes animais. Créditos: Lara Diniz

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Simulado noturno de resgate técnico de grandes animais. Créditos: Lara Diniz

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Grupo de participantes do simulado noturno de resgate técnico de grandes animais. Créditos: Lara Diniz

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Simulado noturno. Créditos: Lara Diniz

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Na etapa prática, realizada entre os dias 16 e 19 de outubro, os participantes vivenciaram situações realistas de resgate de animais em desastres, por meio de simulações controladas. As atividades contemplaram resgate de animais silvestres, e de grande e pequeno portes, abrigamento emergencial, logística de atendimento, comunicação em crise, atuações em altura, além da montagem de estruturas operacionais de campo.

O primeiro dia foi dedicado à recepção dos participantes, à organização das barracas e à demonstração prática do Sistema de Comando Integrado (SCI) com Glória Alcázar. No segundo dia, foram realizadas atividades sobre comunicação e radiocomunicação em desastres, com Aldair Pinto; montagem de abrigos de emergência, com Cláudia Edwards, Andrea Burgos e Guillermina Manigot; técnicas de nós e amarrações e resgate em altura, com Gabriel Akaui, Isadora Ribeiro e Filipi Silva; e aulas sobre o Protocolo START, atendimento de múltiplas vítimas e primeiros socorros psicológicos, com Aldair Pinto, Thaís Coimbra e Bianca Gresele; e resgate técnico noturno de fauna silvestre, com Paula Aravena, Paloma Ambrósio e Hallana Couto.

O terceiro dia foi marcado por atividades diurnas de resgate técnico de fauna silvestre e resgate de pequenos animais, com Aldair Pinto; e resgate de grandes animais, com Pedro Kraus e Gabriel Akaui; e culminou em um simulado de incêndio estrutural com aplicação do Protocolo START. No quarto e último dia, foi realizada uma aula de busca e salvamento em mata, seguida de um simulado geral integrando todas as habilidades aprendidas durante a imersão.

O encerramento, realizado no dia 19 de outubro, foi marcado por uma cerimônia de reconhecimento e agradecimento aos palestrantes, participantes e apoiadores, destacando o esforço coletivo e o impacto transformador da capacitação. O evento reafirma o papel essencial do médico-veterinário nas respostas a emergências e catástrofes, mostrando que o cuidado com os animais é parte indispensável.

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Cerimônia de encerramento do VII SIMVD. Créditos: Aldair Pinto

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Veículos utilizados nas ocorrências do dia a dia do GraBH. Créditos: Paloma Ambrosio

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Grupo reunido para se despedir e homenagear o palestrante Mário Fidel. Créditos: Lara Diniz

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Um dos diferenciais desta edição foi a preocupação ambiental. Todos os participantes receberam kits sustentáveis, compostos por bolsa, copo reutilizável e talheres, incentivando a redução do uso de descartáveis e a minimização de resíduos gerados durante o evento.

A parte prática foi um destaque, pois possibilitou a integração entre equipes multidisciplinares, reunindo médicos-veterinários, bombeiros militares e civis, biólogos, brigadistas e estudantes, reforçando o conceito de trabalho conjunto entre as áreas humana e animal em contextos de crise.

A metodologia de ensino teórico-prática, realizada em um ambiente que simula cenários de desastre, demonstrou resultados altamente positivos. No início das atividades, os participantes apresentavam dificuldades em gerenciar situações de crise, evidenciando lacunas tanto no planejamento quanto na execução de protocolos de resposta. À medida que avançavam nas aulas e nos exercícios práticos, foi possível observar uma progressiva evolução nas competências técnicas e na capacidade de tomada de decisão sob pressão.

Ao final do evento, os participantes foram desafiados com situações significativamente mais complexas, incluindo resgate de múltiplos animais, organização de abrigos emergenciais, comunicação em crise e atuação em diferentes tipos de terreno. Nesses exercícios, foi possível observar uma evolução clara na autonomia, na segurança e na rapidez com que executavam as tarefas.

Essa experiência evidencia a eficácia do ensino experiencial, que une teoria e prática, permitindo que os participantes absorvam os protocolos de maneira natural e desenvolvam não apenas habilidades técnicas, mas também confiança, competência para tomada de decisão e capacidade de adaptação diante de imprevistos. Mais do que apenas aprimorar competências técnicas, ela fortalece habilidades humanas essenciais, como colaboração, liderança, empatia e resiliência.

Atualmente, o VII Simpósio Internacional de Medicina Veterinária de Desastres é um evento de referência para a preparação e atualização de profissionais na área, promovendo a integração entre diferentes setores e especialidades. Ao combinar abordagens teóricas e práticas, o simpósio possibilitou um conhecimento técnico avançado, a vivência realista em simulações de campo e o fortalecimento de organizações nacionais e internacionais.

O evento evidenciou o papel estratégico de grupos especializados em resgate técnico animal, como o GRABH, e de entidades reguladoras, como o CRMV-MG e o CFMV, no desenvolvimento de políticas públicas e possíveis programas de capacitação para o fortalecimento da medicina veterinária de desastres no Brasil e na América Latina.