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Clinica Veterinária

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Pró-Saúde

O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), e o Ministério da Educação (MEC), por intermédio da Secretaria de Educação Superior (SESu) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), lançaram, em novembro de 2005, o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde).

O Pró-Saúde tem o papel indutor na transformação do ensino de saúde no Brasil, tanto para os cursos contemplados, por serem aqueles que integram profissionais no âmbito da Estratégia de Saúde da Família, como para outros da área da saúde, pois, a partir da criação de modelos de reorientação, pode-se construir um novo panorama na formação profissional em saúde.

Desse modo, os processos formadores devem lerar em conta o acelerado ritmo de evolução do conhecimento, as mudanças do processo de trabalho em saúde, as transformações nos aspectos demográficos e epidemiológicos, tendo em perspectiva o equilíbrio entre excelência técnica e relevância social. Espera-se formar cidadãos-profissionais críticos e reflexivos, com conhecimentos, habilidades e atitudes que os tornem aptos a atuar em um sistema de saúde qualificado e integrado.

Com o objetivo de contribuir para o processo de implementação do programa em âmbito nacional, os Ministérios da Saúde e da Educação, valendo-se da cooperação da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), assumiram o compromisso de apoiar técnica e financeiramente os cursos que decidissem enfrentar os processos de mudança. Colateralmente, há grande interesse por parte do governo brasileiro e da OPAS em aproveitar as potencialidades desse programa nacional para promover e estimular o intercâmbio de experiências a partir de iniciativas similares em outros países ou, ainda, para motivar decisões políticas e encaminhamentos que apontem para as necessárias mudanças do processo de formação de profissionais de saúde nesses diferentes contextos.

Tendo em vista o objetivo geral do Pro-Saúde de integração do ensino ao serviço, visando à reorientação da formação profissional, assegurando uma abordagem integral do processo saúde-doença com ênfase na atenção básica, e promovendo transformações nos processos de geração de conhecimentos, ensino e aprendizagem e de prestação de serviços à população, foi realizado de 29 de julho a 2 de agosto o I Curso Introdutório de Medicina Veterinária do Coletivo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pelo Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (ITEC).

 

Curso Introdutório de Medicina Veterinária do Coletivo 

O curso, em sua visão integrativa e atendendo às demandas sociais, ambientais, de saúde humana e animal, capacitou 60 participantes: 35 discentes da UFMG, 5 alunos de pós-graduação, um aluno de residência, dois docentes, 10 profissionais do Centro de Controle de Zoonoses da Prefeitura de Belo Horizonte (4 veterinários, a gerente e 5 agentes), além de cinco veterinários das gerências de controle de Zoonoses de municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte e duas veterinárias atuantes na área de proteção animal.

O conteúdo foi tratado com diferentes metodologias pedagógicas, entre elas seminários, workshops, dinâmicas vivenciais, aulas práticas, aulas demonstrativas e a utilização de modelos alternativos no ensino.

Nos tópicos sobre Saúde Pública, foram abordados os temas: Saúde Única (one health), Sistema Único de Saúde (SUS), saúde do trabalhador e as principais zoonoses. O termo “One Health” (Saúde Única), conceito já antigo, ganhou importância nos últimos anos, porque muitos fatores modificaram as interações entre os seres humanos, os animais e o meio ambiente, causando a emergência e reemergência de muitas doenças, inclusive zoonoses. Discutiu-se como as intervenções bem-sucedidas de saúde pública exigem a colaboração multiprofissional e interinstitucional para promover o desenvolvimento de políticas eficazes relacionadas com a saúde humana, animal e ambiental. Nesse sentido, o SUS, sistema de saúde único e de maior inclusão social no mundo, cujos princípios incluem a universalidade, integralidade e o controle social, deve estar em consonância com essa realidade mundial. Portanto, as ações desenvolvidas pelos serviços responsáveis pela vigilância, prevenção e controle de zoonoses são de extrema importância.

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Grupos discutiram a vigilância, a prevenção e o controle das principais zoonoses transmitidas por cães e gatos

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No workshop realizado para discutir a vigilância, a prevenção e o controle das principais zoonoses transmitidas por cães e gatos e também foram abordadas doenças consideradas negligenciadas, como toxoplasmose, esporotricose, ancilostomíase, toxocaríase (larva migrans cutanea e visceral), escabiose, sarna sarcóptica, infestação por ectoparasitos (pulgas e carrapatos). Os participantes foram divididos em grupos e tiveram que construir um plano de vigilância para as zoonoses, levando em consideração a Saúde Única, a ética e o bem-estar animal, a guarda responsável, o manejo populacional de cães e gatos, a sustentabilidade e a globalização. Foram discutidas ainda ações que envolvem a interação dos profissionais autônomos e dos serviços oficiais, além da participação das ONGs de proteção animal e do ministério público. Considerando o desenvolvimento dessas ações, concluiu-se ser imprescindível a adoção de medidas que garantam a promoção da saúde, a melhoria da qualidade de vida do trabalhador e a prevenção de acidentes e de danos à saúde advindos, relacionados ao trabalho, ou que ocorram no curso dele.

Ao se tratar do tema medicina de abrigos, foram abordados conteúdos relacionados aos conceitos da etologia aplicada, avaliação do bem-estar dos animais no coletivo e a prevenção dos agravos relacionados com mordeduras e ataques de cães e gatos. E foram apresentados ainda temas específicos, integrantes dos programas de manejo populacional de animais de estimação, como estimativa populacional e avaliação de estratégias, controle reprodutivo, registro e identificação, saúde animal em abrigos, legislação, regulação e normalização para o controle animal, socialização, educação e treinamento de animais de estimação, foram apresentados e discutidos, em suas potencialidades e desafios, diante da realidade em relação a recursos disponíveis e necessidades nacionais.

O elo entre a violência humana e maus-tratos aos animais, traumas não acidentais em animais de estimação e crianças e aspectos da vulnerabilidade familiar, foram discutidos com ênfase no papel do animal como sentinela desses riscos aos seres humanos mais vulneráveis, assim como a importância da denúncia e dos trabalhos interdisciplinares e intersetoriais para a identificação e “tratamento” desses problemas.

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Práticas de manejo etológico em felinos facilitando o exame clínico e promovendo o bem-estar animal

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Em medicina veterinária em desastres, foram apresentados os principais tipos de acidentes e ocorrências, destacando-se a importância de suas consequências para os animais. Componentes de um programa de gerenciamento de desastres ambientais foram abordados com os participantes, estimulados a construir um plano de ação para uma situação de desastre hipotética.

Na palestra: “Senciência animal, status moral dos animais e bioética veterinária” foram revistas as diferentes posturas filosóficas e morais com relação aos animais, enfatizando a importância da formação nas áreas da ética animal e ambiental, com o objetivo de desenvolver uma dinâmica que permitisse aos participantes refletirem e argumentarem sobre suas próprias posturas éticas.

No tema de etologia aplicada e bem-estar animal foram discutidas a utilidade destas disciplinas no âmbito coletivo e sua aplicação no diagnóstico e manejo desses animais, reconhecendo o valor do comportamento na avaliação do grau de bem-estar dos animais em coletividades, o que posteriormente foi utilizado na prática no Centro de Controle de Zoonoses de Belo Horizonte.

No workshop sobre os aspectos etológicos da agressividade canina e felina foram discutidas as formas de classificar a agressividade considerando-se as diferenças entre cães e gatos, os aspectos epidemiológicos e os riscos, a avaliação do animal mordedor e seu grau de periculosidade, bem como as ações preventivas e de controle.

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Demonstração de comandos básicos de obediência. Eles facilitam o manejo etológico e favorecem as adoções

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As estratégias de educação foram discutidas como instrumentos de transformação para promoção da qualidade de vida das comunidades, partindo do reconhecimento dos saberes já existentes e da realidade local, para a construção conjunta, entre agente público e munícipe, de um processo participativo e mobilizador em prol da saúde dos indivíduos, famílias e comunidades.

As aulas práticas envolveram acompanhamento de agente comunitário e agente de combate a endemias da Estratégia de de Saúde da Família (ESF) da Unidade Básica da Saúde (UBS) Cidade Ozanan, para conhecer a sua rotina; visita à UBS e apresentação das atividades realizadas pela ESF; e visita ao Distrito Sanitário Nordeste, onde as ações para o controle de zoonoses desenvolvidas na região foram explanadas pelo médico veterinário responsável.

Também foram realizadas práticas no Centro de Controle de Zoonoses de Belo Horizonte em manejo etológico de cães e gatos, educação básica para cães, avaliação comportamental e de bem-estar dos animais. Em relação ao manejo de gatos ferais, foi feita visita guiada ao Parque Municipal Américo Renné Gianetti para apresentar o programa desenvolvido em parceria entre o CCZ de Belo Horizonte e a UFMG, para que os participantes pudessem avaliar, discutir e vivenciar a multiplicidade de fatores ambientais, humanos e animais que compõem uma atividade de manejo populacional felino num espaço público aberto com interesses e uso distintos.

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Além dos conteúdos teóricos, o curso teve como objetivo trabalhar com a dimensão sensível e autoconsciente dos participantes, criando dinâmicas que fortalecessem o autoconhecimento, o entendimento das limitações, as habilidades argumentativas, a tomada de decisões éticas e a integração dos agentes sociais. Para isso foram aplicadas em diferentes momentos do curso práticas vivenciais que proporcionaram essa reflexão.

Para tanto, no tocante à saúde do trabalhador, utilizou-se a ferramenta “Perfil de Personalidade Facet5” para avaliar aspectos como a determinação, energia, afetividade, controle e emocionalidade em relação, por exemplo, ao altruísmo, disciplina e ansiedade, dimensionando-se as possibilidades de suas combinações diante das atitudes e posturas profissionais no tocante a colaborar, competir, evitar, acomodar-se e comprometer-se nas diversas fases do trabalho, desde a geração de ideias até a tomada de decisões.

A partir dos valores individuais e coletivos, foi construído um “mural de expectativas” durante a apresentação dos participantes no primeiro dia, transformado no “Tecido Vital” na conclusão do mesmo, representando um processo de mudança e construção contínuo. Por meio de dinâmicas para o desenvolvimento humano, foram utilizados elementos de comunicação não verbal como ferramenta pedagógica.

A finalização do curso contou com avaliações práticas, teóricas, escritas e orais, aferindo a compreensão e a aplicação dos conceitos oferecidos.

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Participantes do curso durante atividade desenvolvida no Parque Municipal Américo Renné Giannetti. Eles praticaram a avaliação individual das interações humano-animal-ambiente, do entorno do parque, do bem-estar animal e dos riscos aos quais estão expostos – http://goo.gl/maps/gyESpcGUKVo

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