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Alerta aos médicos-veterinários sobre o avanço da leishmaniose visceral canina no estado de São Paulo

Matéria escrita por:

Francis Flosi

12 de ago de 2025

Créditos: Qualittas Créditos: Qualittas

O mês de agosto traz à tona, com o símbolo da fita verde-clara, uma pauta urgente e prioritária para a medicina veterinária: a leishmaniose visceral canina (LVC). Embora amplamente conhecida entre profissionais da área, a doença ainda representa um desafio crescente no campo da prevenção, diagnóstico e controle, especialmente no estado de São Paulo, onde o avanço da enfermidade tem se mostrado geograficamente progressivo.

 

Panorama epidemiológico no interior paulista

A leishmaniose visceral, causada por Leishmania infantum, tem expandido sua área de ocorrência no estado de São Paulo, especialmente em regiões que margeiam rodovias como a Marechal Rondon – vetor de circulação tanto de pessoas quanto de animais, o que contribui para a dispersão da zoonose. Cidades de médio porte e até regiões metropolitanas, antes consideradas não endêmicas, vêm registrando positividade sorológica crescente em cães, antecipando possíveis casos em seres humanos.

Esse avanço impõe uma responsabilidade técnica e ética aos médicos-veterinários, sobretudo no tocante à educação dos tutores, à vigilância ativa e ao papel de multiplicadores de informação científica de qualidade.

 

O vetor: pequenos, silenciosos e perigosos

O vetor da LVC é o flebotomíneo do gênero Lutzomyia, conhecido popularmente como mosquito-palha, tatuquira, birigui, entre outros nomes regionais. De hábitos noturnos e voo baixo em zigue-zague, esse inseto se prolifera em ambientes úmidos, escuros e com matéria orgânica em decomposição – condições muito comuns em áreas urbanas mal cuidadas, zonas rurais e entorno de matas.

A presença do vetor em ambientes domésticos e periurbanos, aliada à permanência prolongada dos cães nesses locais, faz dos animais domésticos o principal reservatório da infecção, embora a transmissão ocorra exclusivamente pela picada do vetor – ou seja, não é uma doença contagiosa direta entre animais ou entre animais e humanos.

 

Apresentações clínicas e sinais de alerta

A leishmaniose visceral canina é uma doença de curso crônico, imunossupressora e sistêmica. Os sinais clínicos mais frequentes incluem:
• Dermatites ulcerativas ou descamativas;
• Alopecia periocular (“óculos”);
• Crescimento exagerado de unhas (onicogrifose);
• Linfadenomegalia generalizada;
• Emagrecimento progressivo e inapetência;
• Epistaxe, atrofia muscular, lesões oculares e sinais renais em fases avançadas.

O quadro clínico pode variar amplamente, e muitos cães permanecem assintomáticos por longos períodos, servindo como fonte silenciosa de infecção para o vetor.

 

Diagnóstico: precisão e abordagem integrada

O diagnóstico da LVC deve seguir critérios sorológicos (DPP®, ELISA), moleculares (PCR) e, quando possível, parasitológicos (aspiração de linfonodos, medula óssea ou baço). A recomendação é sempre associar clínica, sorologia e epidemiologia para confirmação. A testagem de rotina em áreas de risco é fundamental, mesmo em animais sem sinais evidentes.

 

Prevenção: a chave está na orientação ao tutor

O médico-veterinário é protagonista no processo preventivo, que envolve desde a conscientização sobre o papel do cão como reservatório até a recomendação de medidas eficazes como:
• Uso contínuo de coleiras impregnadas com deltametrina 4%;
• Aplicação de repelentes tópicos e spot-on adequados;
• Vacinação preventiva com vacinas registradas no MAPA;
• Controle ambiental rigoroso (limpeza de quintais, manejo de resíduos orgânicos, instalação de telas em portas e janelas);
• Testagem anual de rotina em regiões de risco.

A abordagem preventiva deve ser personalizada conforme o estilo de vida do animal, sua localização geográfica e riscos associados à área onde reside.

 

Tratamento e acompanhamento clínico

Embora a cura parasitológica não seja garantida nos cães, o tratamento clínico com miltefosina, alopurinol, domperidona e demais protocolos pode promover melhora clínica significativa e prolongar a sobrevida dos animais. O tratamento só deve ser feito sob prescrição e acompanhamento veterinário, com registro e notificação conforme normativas estaduais.

É importante reforçar junto ao tutor que o animal tratado deve manter medidas preventivas rigorosas para evitar reinfecção e reduzir o risco de transmissão.

 

Leishmaniose humana: o elo com a saúde pública

Como zoonose de alta relevância, a leishmaniose visceral humana é uma enfermidade de notificação compulsória e apresenta taxas de letalidade preocupantes – cerca de 7% em média, segundo o Ministério da Saúde. Os sintomas incluem febre prolongada, anemia, hepatoesplenomegalia, fraqueza e perda de peso. O tratamento está disponível gratuitamente pelo SUS, mas o acesso precoce ao diagnóstico ainda é um desafio.

O papel do médico-veterinário como educador em saúde única (One Health) é, portanto, inegociável.

 

O papel do médico-veterinário na contenção da doença

O Agosto Verde-Claro é mais do que uma campanha de saúde: é um chamado à responsabilidade técnica, ética e social dos profissionais veterinários. Somos linha de frente no combate à disseminação da Leishmaniose, atuando na tríade:
• Educação da população e combate a mitos (como a eutanásia compulsória);
• Atualização profissional contínua em protocolos diagnósticos e terapêuticos;
• Colaboração com autoridades sanitárias nos planos de controle e vigilância epidemiológica.

A cada animal protegido, uma família está mais segura. E cada orientação precisa dada ao tutor contribui para reduzir o impacto de uma zoonose que ainda desafia o país.

A leishmaniose é uma realidade em franca expansão no Brasil e em São Paulo. O combate à doença requer ações coordenadas entre poder público, população e, principalmente, os profissionais da medicina veterinária. O Agosto Verde-Claro é um lembrete de que nosso papel vai além do consultório: é também o de educador, vigilante epidemiológico e agente de transformação social.

A prevenção começa em casa, mas só se consolida com a orientação técnica adequada. Informação salva vidas – e o médico-veterinário é peça-chave nesse processo.