Contraceptivos hormonais injetáveis e outubro rosa pet
Uma única dose pode ser suficiente para o efeito deletério mamário e requer supervisão veterinária
De modo sensível, o outubro rosa também é destacado no mundo dos pets, pois cadelas a gatas também são acometidas pelos populares “tumores de mama”. Neste período, falar sobre método contraceptivo hormonal é algo necessário, pois devido aos efeitos farmacológicos capazes de inibir a ovulação, impedir o popular “cio” e evitar a gestação caiu no hábito dos brasileiros como uma opção para evitar “crias indesejadas” de cadelas e gatas desde a década de 1990.
Esse método contraceptivo hormonal está associado à tumores mamários e hiperplasia mamária felina (HMF). Isso se deve aos princípios ativos empregados, sendo os mais comuns progestágenos sintéticos, como o acetato de megestrol e o acetato de medroxiprogesterona, que mimetizam a ação da progesterona natural, mas promovem efeitos colaterais freqüentemente, principamente em função do uso sem supervisão médico-veterinária.
As progesteronas tem como órgão-alvo primeiramente as mamas, onde estão seus receptores ativos. Algumas formas de progestinas sintéticas podem ativar receptores de glicocorticóide e, no caso de gatas, há uma sinergia hormonal particular entre progesterona mamária, GH, IGF-I e IGFBP-3, que ocasiona gigantismos mamários em algumas delas (HMF), sendo desaconselhado o uso sem orientação veterinária.
Os possíveis efeitos colaterais não são desconhecidos dos fabricantes. Nas bulas há destaques como “Sem dúvida, como todo progestágeno, é capaz de induzir tanto na cadela, como na gata, diversas alterações patológicas, e os animais tratados devem estar sob revisão clínica1” e “uma única dose pode ser suficiente para os efeitos colaterais 2 ”.
As concentrações do fármaco empregado também estão associadas, e uma revisão sistemática aponta que doses entre 25 e 100 mg injetável por animal são abusivas 3. Há uma reação em cadeia que merece ser pontuada no Brasil sobre enfermidades associadas ao uso de hormônios contraceptivos. A administração oral ou injetável de progestágenos sintéticos é facilitada no país, uma vez que são amplamente comercializados sem receita médica e aplicados por pessoas não capacitadas ou pelo responsável do animal 4.
Considerando as particularidades fisiológicas das cadelas e gatas, o uso imprescindível sob supervisão de médico-veterinário, a necessidade de revisão das posologias pelos fabricantes, o uso banalizado que se deu no Brasil como meio de controle reprodutivo, cujas políticas públicas ainda são incipientes, e pela dificuldade de grande parte da população custear os tratamentos de enfermidades reprodutivas consequentes ao uso desses fármacos, o cenário ideal com uso de contraceptivos hormonais aponta para a necessidade urgente de uma atitude equilibrada entre governo, órgão regulador e laboratórios desses fármacos, tendo em vista a responsabilidade social, a ética profissional e o respeito ao bem-estar animal.
Referências
1-König do Brasil Ltda. SINGESTAR. Anticoncepcional para cães e gatos. Contra-indicações, efeitos adversos e precauções. Licenciado no Ministério da Agricultura sob nº 4.375 em 26/07/1993. https://konigbrasil.com.br/produtos/terapiashormonais/singestar-comprimidos/
2-GIRIO, T.M.S. 1999. UZINAS CHIMICAS BRASILEIRAS S/A. Acetato de medroxiprogesterona. Caninos Felinos. [bula] ANTICION | Bulário Veterinário. Registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: 6.762/1.999. https://casadalavoura.vteximg.com.br/arquivos/751.pdf
3-MELO, E. H. M. ; CÂMARA, D. R. ; NOTOMI, M. K. ; JABOUR, F. F. ; GARRIDO, R. A. ; NOGUEIRA, A. C. J. ; JÚNIOR, J. C. S. ; SOUZA, F. W. Effectiveness of ovariohysterectomy on feline mammary fibroepithelial hyperplasia treatment. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 23, n. 4, p. 351-356, 2021. Doi: 10.1177/1098612X20950551.
4-TEIXEIRA, J. B. C. ; OLIVEIRA, C. F. ; GUEDES, P. E. B. ; CARLOS, R. S. A. Hiperplasia mamária felina: por que é tão comum no Brasil? Research, Society and Development, v. 10, n. 5, e39510515002, 2021 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | Doi: 10.33448/rsd-v10i5.15002
