
Apesar do relativo alívio trazido pelo fim da pandemia Covid-19, vivemos ainda um cenário complexo e perturbador. São pressões sociais (preocupações com segurança, mobilidade urbana, a reviravolta do home-office com seu isolamento social e carga de trabalho estendida); são pressões econômicas, profissionais. E, consequentemente, pressões pessoais. Um cotidiano de violências, extremas ou sutis, que dificulta as relações humanas, e a relação entre seres humanos e outros animais, e dos seres humanos com a natureza.
No plano mais geral, pressões ambientais, como as produzidas pelo aquecimento global, afetam fortemente a vida de todos e a sobrevivência de inúmeras espécies do planeta – muitas delas extintas, outras ameaçadas de extinção. E também sob ameaça estão diversas culturas e saberes, desenvolvidos ao longo de milênios.
As populações humanas, concentradas nos grandes centros urbanos, embora relativamente afastadas dessas realidades, sentem no fundo o “fantasma” dessas agressões ao bem-estar, bloqueando uma expressão mais fluente. Como veterinários, vemos cada vez mais colegas sofrendo com falta de estímulo, cansaço, estresse, dificuldade de se relacionar e depressão, o que muitas vezes leva ao suicídio.
A revolução tecnológica surpreende, gera expectativas e perplexidades, e também tensões e uma nebulosidade em relação ao futuro. Seduções como a dos prodígios da inteligência artificial prometem suprir a precária consciência geral, mas deixam mais evidente ainda o longo caminho a percorrer para chegar a uma visão mais lúcida da nossa complexa realidade.
Em meio a tudo isso, temos também esforços louváveis e importantes. Nesta edição, trazemos mais um mecanismo para aprofundar a conscientização no ambiente de trabalho. É a abrangente análise de Bianca Gresele sobre a recente atualização da Norma Regulamentadora nº 1, que estabelece direitos e deveres das organizações e dos trabalhadores, obrigando a adoção de um Programa de Gerenciamento de Riscos, inclusive dos psicossociais, e a implementação de ações preventivas e corretivas. É mais uma oportunidade de coletivamente ampliarmos a atenção a essas questões e cuidarmos melhor uns dos outros.
Além dos conteúdos técnicos e informativos, esta edição traz outro importante artigo de Celso Morishita, ressaltando mais uma vez a necessidade de examinar nossa maneira de encarar o empreendedorismo ou mesmo nosso trabalho como médicos-veterinários e funcionários. A ideia, muito simples, mas fundamental, é introduzir uma intenção verdadeira de servir e de buscar proporcionar o bem ao próximo. Ela propicia uma guinada radical, quase mágica. O esforço para aumentar nossa consciência e nossa conexão conosco e com o mundo ao redor nos leva a uma atitude mais abrangente, envolvendo também os outros e nosso ambiente, e transforma nosso cotidiano em um ecossistema onde todos podem sair ganhando. É essa atenção e esforço que permitem superar obstáculos e alcançar resultados positivos – em bem-estar, consciência, conexão e harmonia.