Nova capacitação para atuação em desastres envolvendo animais
Grupo de Resposta a Animais em Desastres (Grad)
O Grupo de Resposta a Animais em Desastres (Grad) é um grupo de voluntários composto por mais de 100 membros, de diferentes áreas de atuação e estados brasileiros, com objetivo de promover ajuda humanitária aos animais e às pessoas em circunstâncias de vulnerabilidade em desastres em comunidades isoladas, com equipe técnica qualificada e capacitada para atuar em diferentes situações. O grupo conta com profissionais de diversas áreas, como: médicos-veterinários, zootecnistas, agrônomos, engenheiros, biólogos, advogados, oceanógrafos, médicos, psicólogos, bombeiros militares e civis, entre outros, estando presente em 20 estados brasileiros e no Distrito Federal (Figura 1).

O Grad tem como missão proporcionar resgate e assistência a animais e famílias multiespécies em situações de vulnerabilidade diante de desastres, promover palestras, treinamentos e ações preventivas que fortaleçam a resiliência das comunidades, incentivando uma cultura de segurança e responsabilidade compartilhada. Seus membros trabalham em parceria com organizações não governamentais, órgãos governamentais e comunidades locais para desenvolver planos de resposta a desastres fundamentados nos princípios da Saúde Única.
Anualmente o Grad realiza uma seleção para entrada de novos membros, que conta com um treinamento teórico online e uma prática presencial de 7 dias. As inscrições para o treinamento online são abertas a todos os interessados, com temas diversificados e atuais, com profissionais renomados e com ampla experiência de campo. Após sua realização, há a seleção para o treinamento presencial, no qual se faz uso de questionário e é necessária a presença em 100% das atividades. Em 2025, 593 interessados se inscreveram, dos quais foram selecionados 18 para a semana de capacitação presencial.
A capacitação prática ocorreu entre os dias 14 e 21 de setembro, na sede do Grad em Conselheiro Lafaiete, MG. A semana de treinamentos contou com a presença dos 18 selecionados e também com 46 membros ativos (Figura 2). Todos os treinamentos foram organizados de acordo com a experiência prática do grupo conquistada em cenários reais ao longo de anos de ações realizadas, visando a qualidade do trabalho e a segurança dos presentes.

Trinta e seis treinamentos práticos foram realizados, nos quais utilizou-se material de alta qualidade. Dentre as práticas realizadas destacam-se:
– visitas técnicas a empreendimentos de produção de animais (suínos, bovinos e equinos) (Figura 3), para desenvolvimento de planos de ação emergencial para evacuação em caso de incêndio, inundação ou deslizamento de massa;
– treinamentos para resgate em altura (Figura 4), com técnicas de rapel envolvendo também resgate de animais de diversas espécies (Figura 5);



– resgate em espaço confinado, simulando ocorrências com água (Figura 6), densa fumaça ou espuma tóxica (Figura 7), havendo necessidade de uso de EPIs (equipamentos de proteção individual) específicos para tais situações;
– primeiros socorros de animais e humanos (Figura 8) – APH (atendimento pré-hospitalar);
– resgate aquático, simulando situações de inundação (Figura 9) e veículos submersos (Figura 10);









– resgate em incêndios florestais e combate ao fogo (Figura 11), com vítimas queimadas e intoxicadas, além do treinamento dos membros da Brigada Florestal do Grad;
– resgate em estruturas colapsadas, com vítimas humanas e animais (Figuras 12 e 13);
– técnicas de autossalvamento em diversos cenários (Figura 14);




– treinamento em manejo de animais peçonhentos (Figuras 15 e 16) e de animais domésticos (Figura 17) envolvendo captura, contenção e transporte.
– resgate de mamíferos aquáticos, em situações de vazamento de óleo e encalhes em massa (Figura 18);
O Grad possui uma brigada florestal devidamente estruturada e registrada nos órgãos oficiais, e durante a semana de treinamentos foi também realizada reciclagem para os membros (Figura 19), com os temas que envolvem combate ao fogo e resgate de animais nesses cenários.






Foram realizados ainda dois grandes simulados em diferentes cenários. Em um houve a necessidade de retirada dos animais presentes em uma desintrusão de área de ocupação indevida, onde os moradores estavam sendo retirados por forças policiais e não tinham como levar seus animais, ficando os membros do Grad responsáveis por organizar a logística de resgate, o protocolo sanitário e o encaminhamento dos animais (Figuras 20 e 21), bem como lidar com os moradores e os órgãos envolvidos (Figuras 22 e 23), em momento de muita tensão, desenvolvendo aspectos importantes de inteligência emocional, segurança e ações em equipe.




O segundo cenário do grande simulado foi um acidente com múltiplas vítimas, humanas e animais, às margens da BR 040, onde está situado o Centro de Controle de Zoonoses da cidade. Esse cenário envolveu um caminhão tanque que havia realizado uma conversão em local proibido, estando em alta velocidade, atingindo três carros de passeio e capotando, atravessando o muro do Centro de Controle de Zoonoses (Figura 24), ocorrendo vazamento de combustível que atingiu um dos canis. Para o resgate e encaminhamento das vítimas, humanas e animais, foi utilizado o Protocolo Start, classificando com as cores vermelho, amarelo, verde e cinza, de acordo com a gravidade do quadro. A vítima vermelha é aquela com ferimentos graves que necessitam de atenção imediata, a amarela é para ferimentos moderados, a verde é para ferimentos leves que podem aguardar, e a cinza é para vítimas em óbito. Entre as 9 vítimas humanas a classificação foi: 3 vermelhas, 2 amarelas, 3 verdes e 1 cinza (Figura 25). Entre as 19 vítimas caninas, a classificação foi: 4 vermelhas, 3 amarelas, 9 verdes e 3 cinzas.





O comando da operação ficou a cargo do Corpo de Bombeiros, estando ainda envolvidos os seguintes órgãos:
– Grad (responsável pelo resgate, triagem, desintoxicação e encaminhamento das vítimas caninas) (Figura 26);
– Samu (responsável pelos resgates das vítimas humanas e encaminhamentos) (Figura 27);
– Hospital e Maternidade São José (recebimento das vítimas humanas vermelhas e amarelas) (Figura 28);
– Secretaria Municipal de Saúde – UPA – Unidade de Pronto Atendimento (recebimento das vítimas humanas verdes);
– Polícia Militar Ambiental (responsável por avaliar a contaminação);
– Polícia Civil (responsável pela vítima humana cinza, após constatação do óbito humano);
– Guarda Municipal (responsável pela manutenção da segurança no local);
– Departamento de trânsito (responsável pelo fechamento do trânsito);
– Concessionária EPR (responsável pelos resgates das vítimas e encaminhamento);
– Defesa Civil (avaliação da necessidade de evacuação das residências);
– Centro de Controle de Zoonoses (colaboração na triagem dos animais);
– Centro Veterinário São Francisco (recebimento das vítimas caninas vermelhas e amarelas).





O Grad realizou o resgate dos animais atingidos, desintoxicação (Figura 29) e encaminhamento dos animais em estado grave. Foi o primeiro grande simulado no Brasil que envolve vítimas humanas e animais no mesmo cenário. Com a realização desse simulado é esperado que o município de Conselheiro Lafaiete se torne mais adaptado a respostas rápidas para possíveis acidentes reais, se tornando o primeiro município do país a desenvolver um treinamento dessa magnitude, colocando importantes instituições (Figura 30) em um cenário realista que busca ações efetivas para minimizar os impactos.


A realização de treinamentos nessas proporções requer um planejamento antecipado, organização logística e aquisição de materiais inovadores. O Grad atua desde 2011, já tendo realizado mais de 100 missões em todas as regiões do país (Figura 31) e vem desde 2021 realizando treinamentos para seus membros pautados na ética e com foco na melhor solução de situações em cenários de desastres que envolvam todas as espécies atingidas, assim como famílias multiespécies. Como ressalta a médica-veterinária mineira Marília Gabriela Liguory, membro do Grad desde 2015: “A capacitação anual é essencial para garantir uma atuação técnica, segura e eficiente em situações de emergência. Por meio do treinamento contínuo, os profissionais desenvolvem habilidades fundamentais para oferecer um atendimento de qualidade aos animais e à comunidade, fortalecendo o trabalho em equipe e a resposta humanitária. Neste ano, o Grad abordou temas importantes para o aprimoramento das ações em campo, com treinamentos que simularam diferentes situações reais de emergência. O conteúdo foi extremamente relevante e contribuiu para aperfeiçoar minha preparação técnica e emocional, além de reforçar a importância da coordenação e da integração entre as equipes.”

Vale ressaltar que a escolha de profissionais para compor o quadro do Grad não é uma tarefa simples, considerando a alta qualidade dos interessados. A forma de introdução e manutenção de membros (Figura 32) vem se mostrando eficaz, atendendo às demandas da sociedade e principalmente garantindo que profissionais capacitados e com perfil adequado estejam à frente da resposta necessária em cenários de desastres em que o Grad atua, integrado aos órgãos oficiais, assistindo cada vez mais animais e famílias multiespécies.

A médica-veterinária do Piauí, Joana Rodrigues, selecionada entre os 593 inscritos, declarou: “Quando fui selecionada, senti uma alegria imensa. Eu mal conseguia me conter, porque queria muito participar. Durante a capacitação, fiquei profundamente impressionada com a forma como tudo foi conduzido. Não se tratava apenas de bons profissionais, mas de pessoas com experiências reais, um olhar sensível para a causa e um comprometimento genuíno em formar quem estava ali. A estrutura do local e o realismo das atividades proporcionaram verdadeira sensação de estar em campo (Figura 33). Não era apenas sobre atravessar lama ou enfrentar uma chama simbólica, mas sobre viver simulações que nos preparam, de fato, para atuar em situações de desastre. Foi um aprendizado vivo, intenso e transformador.”






