
De 11 a 13 de novembro de 2015, a Associação Médico Veterinária de Bem-estar Animal (Amvebbea), a Asociación Veterinária Latinoamericana de Zoopsiquiatría (AVLZ) e o Colegio Latinoamericano de Etología Veterinaria (Cleve) reuniram-se em Curitiba, PR, para, em conjunto com o International Veterinary Behaviour Meeting (IVBM), realizar o maior congresso de medicina veterinária de comportamento da América Latina.
Foi um encontro singular que contou com a presença de renomados palestrantes internacionais e nacionais, e com a primeira conferência do grupo do IVBM na América Latina. O evento foi dirigido aos profissionais interessados na ciência do comportamento animal, e as estatísticias demonstram o sucesso da iniciativa. O congresso mobilizou participantes vindos de doze países: Espanha, Chile, Nova Zelândia, Portugal, Canadá, Turquia, Argentina, Inglaterra, Peru, Colômbia, França e Brasil).
Durante os três dias, 270 congressistas dedicaram-se a discutir e intercambiar conhecimentos compartilhados pelos dezoito palestrantes e os 71 resumos apresentados por autores de diversas nacionalidades sobre novos estudos de comportamento.
O encontro trouxe novas abordagens e delimitou um fértil e promissor campo de atuação, consolidou e ampliou conhecimentos e revelou o desenvolvimento científico alcançado em pesquisas de ponta.
Ficou evidente que vivemos uma nova era de atuação na medicina veterinária de comportamento, a qual tem crescido em virtude das demandas e exigências sociais.
Muitos tópicos foram debatidos, e a compreensão de conceitos tais como comportamento normal ou anormal, critérios de gravidade para avaliar os problemas comportamentais e, particularmente, categorias terapêutica instituídas e prognóstico estabelecido constituem o imenso desafio para o clínico comportamental.
Atualmente, há necessidade de difundir entre os profissionais a metodologia etológica baseada na avaliação de indicadores biológicos e nos parâmetros comportamentais. Esse direcionamento visa que a prática clínica realmente se baseie em evidências científicas.
Diante de tudo o que foi apresentado no evento, fico claro que é fundamental questionar práticas e resultados baseados apenas em opiniões e avaliações preliminares.
Nesse sentido, dentre os parâmetros enumerados para a validação de técnicas e procedimentos, a padronização diagnóstica e a otimização da consulta comportamental incluem-se: o comportamento locomotor, a motivação primária (fisiológica), as emoções e a cognição.
Assim, o encontro deu destaque aos indicadores biológicos na avaliação de emoções e na detcção de possíveis distúrbios neurofísiológicos, doenças genéticas e na mensuração dos efeitos das drogas administradas.
Para exemplificar o aspecto crucial dos indicadores, vale mencionar a relação entre elevadas concentrações de cortisol e a agressividade em cães. Também foi mencionada a redução de atividade do neurotransmissor dopamina em casos de ansiedade canina e a coexistência desse transtorno mental como co-morbidade em doenças orgânicas crônicas imunomediadas.
Do ponto de vista prático, foi salientado que há possibilidade de estruturar diagnóstico e avaliação de pacientes partindo de uma abordagem científica. Mas há dificuldades que impedem essa consolidação.
Dentre o que foi elencado, houve um consenso entre os participantes sobre as lacunas existentes na formação acadêmica do veterinário na América Latina no que diz respeito à medicina veterinária de comportamento, e a necessidade de capacitar profissionais nessa área de atuação para que ela represente, de fato, uma especialidade médica-veterinária.
Portanto, é necessário realizar uma mudança no modo como se estrutura a grade curricular da medicina veterinária e suas ênfases, e ampliar as referências conceituais sobre saúde e doença nos animais, indo além das fronteiras clássicas delimitadas tradicionalmente.
É preciso estimular práticas de ensino, pesquisa e extensão que favoreçam novas atitudes dos futuros profissionais em relação à ocorrência dos transtornos mentais nos animais de companhia e que estimulem o desenvolvimento do potencial científico dessa ciência.
A realização do 10th IVBM no Brasil foi um importante impulso para a etologia clínica na América Latina. Três aspectos colaboraram para o seu êxito: a maciça internacionalização do evento (congressistas e palestrantes), a multiplicidade de participantes, que trouxeram experiências pioneiras, e a união das principais associações latino-americanas dedicadas ao comportamento animal: Amvebbea, ALVZ e Cleve.
O comportamento animal e a etologia clínica são temas que estarão presentes no próximo Congresso Mundial de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (WSAVA 2016 – http://www.wsava2016.com), que ocorrerá na Colômbia, na cidade de Cartagena, de 27 a 30 de setembro de 2016. Como o congresso será na América Latina, é uma grande oportunidade para se manter atento às informações compartilhadas pelos especialistas da área.
Em breve também será divulgada a cidade que sediará o 11th IVBM e as informações para participar.