
No dia 2 de dezembro de 2015 aconteceu a Conferência Científica “O fim dos testes em animais – a nova era em avaliação de segurança em cosméticos e medicamentos”, na Câmara Municipal de São Paulo. O evento foi organizado pelo Fórum de Proteção e Defesa Animal da cidade de São Paulo, instituído pelo Projeto de Resolução n. 08/2015, de autoria do vereador Eliseu Gabriel (PSB), e contou com a participação da dra. Maria Inês Harris, cientista, doutora em química orgânica e pós-doutora em toxicologia celular e molecular de radicais livres (Unicamp); dra. Adriana Leite, médica-dermatologista, que atua há 15 anos na área de dermatologia clínica; Bianca Marigliani, bióloga especialista em biologia molecular, aluna de doutorado em biotecnologia pela Unifesp; e Ricardo Laurino, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) e autora da obra de ficção O último teste (Curitiba: Blanche, 2013). Sua realização teve como objetivo promover a discussão e acelerar as mudanças necessárias para que tenhamos uma ciência que realmente possa ser chamada de ética, respeitando de forma profunda os interesses dos animais. Durante a programação, foram apresentados diversos casos de sucesso do não uso de animais, bem como das dificuldades encontradas por pesquisadores que buscam eliminar a prática no universo das pesquisas científicas.
O público participou ativamente dos bate-papos após as palestras dos conferencistas, e a tônica dos comentários era a necessidade de abandonarmos as práticas que envolvam animais de forma imediata. Essa é uma posição compartilhada por Ricardo Laurino. Segundo ele, “Ao jogarmos a expectativa da abolição dos testes ‘nas costas’ do desenvolvimento de outros métodos, acabamos por assumir a postura de que, caso não os tenhamos, então deveríamos considerar justificável usar animais para o chamado ‘desenvolvimento científico’. A abolição deve ser pelo viés da ética e não porque desenvolvemos métodos que não mais usam animais”.
Durante a conferência, a dra. Odete Miranda, a dra. Regis Beltrame e Ricardo Laurino foram homenageados com o Prêmio Palmas pelo Bem, em reconhecimento aos esforços até aqui realizados em prol da mudança de nossa realidade científica em relação aos animais.
Bianca Marigliani, aluna de doutorado em biotecnologia pela Unifesp, no Laboratório de Imunoterapêuticos e Métodos Alternativos ao Uso de Animais (Limaua), foi uma das vencedoras do Prêmio Lush Prize 2015, na categoria Jovem Pesquisador. O prêmio incentiva pesquisadores do mundo todo a descobrir métodos substitutivos do uso de animais em testes. A conquista de Bianca é muito importante para o Brasil e um grande incentivo para que mais pesquisadores brasileiros busquem métodos substitutivos, e, com isso, o fim dos testes em animais. A pesquisa de Bianca tem como objetivo terminar com o uso de soro bovino fetal em testes, pois o método atual provoca por ano a morte de cerca de 2 milhões de fetos bovinos, usados para a obtenção desse soro.
I Congresso Internacional Interdisciplinar de Direitos Animais: a questão da experimentação
Também com o propósito de debater a questão do uso de animais em pesquisas, foi realizado, nos dias 7 e 8 de dezembro de 2015, em Florianópolis, SC, o I Congresso Internacional Interdisciplinar de Direitos Animais: a questão da experimentação, e o II Encontro Catarinense de Direitos Animais, iniciativa do projeto Mais Ciência – Plataforma Digital, Eventos Jurídicos e Inovação.
“Com a participação de diversos palestrantes abordando vários temas relativos ao assunto, o evento foi mais uma mostra de que estamos diante de um período de mudanças importantes no mundo científico em relação à forma como lidamos com os animais e com nosso desenvolvimento”, destacou Ricardo Laurino.
Durante o congresso, também teve destaque o lançamento da obra Experimentação animal – um obstáculo ao avanço científico, do prof. dr. Thales de A. Tréz (Porto Alegre: Tomo, 2015). Outra obra do pesquisador, lançada em 2013, é Entendendo a experimentação animal – a crítica ao uso de animais como modelos de pesquisa para a saúde humana.